segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

No RN, registro de armas novas mais que dobra nos últimos dois anos

Da redação
Fonte: Tribuna do Norte


Nos últimos dois anos, a quantidade de registros de novas armas de fogo no Rio Grande do Norte mais que dobrou. A Polícia Federal fez o registro de 2.577 em 2020, um aumento de 104,68% comparado a 2018 (1.259), e de 28,4% ante 2019 (2.006 armas). As informações são da Polícia Federal, obtidas pela TRIBUNA DO NORTE via Lei de Acesso à Informação.

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O crescimento da circulação de armas no período não é isolado ao RN. Os registros cresceram em todo Brasil. A Polícia Federal registrou, ao todo, 179.771 novas armas em 2020 – um crescimento de 91% com relação ao ano anterior, que já havia apresentado crescimento alto ante a 2018. É o maior número desde o início da série histórica disponibilizada pela instituição, que começa em 2009.

A maioria das armas novas está nas mãos da sociedade civil. De acordo com os dados da PF, 1.973 dos mais de 2,5 mil novos registros no RN em 2020 (76,5%) foram concedidos a cidadãos. O restante, para policiais ou empresas de segurança privada.

Segundo pesquisadores da segurança pública, o aumento dos registros está ligado às medidas do presidente Jair Bolsonaro que flexibilizaram as exigências para ter acesso às armas de fogo e ampliaram os calibres permitidos. “O acesso as armas era uma das principais bandeiras do Bolsonaro e está sendo colocado em vigor. O aumento é um reflexo esperado”, declarou o advogado e pesquisador Ivan Marques, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Outro fator apontado pelo pesquisador é o próprio discurso do presidente e dos seus filhos. “Além da facilitação, existe uma propaganda do próprio presidente que incentiva a sociedade civil a adquirir armas.”

As consequências do aumento da circulação de armas são diversas, a curto, médio e longo prazo. No curto prazo, analisa Marques, o crescimento tem efeito na violência doméstica, ameaças e abusos, além de aumentar o risco de acidentes domésticos fatais. “Diversos estudos mostram que todos esses fatores estão ligados a ter armas em casa. A arma aumenta o risco de acidente com crianças, o suicídio e a violência em casos cotidianos, como desentendimentos entre vizinhos”, disse ele.

Em 2020, os registros de violência doméstica aumentaram 169,2% no Rio Grande do Norte. Em números absolutos, os registros de violência doméstica saíram de 552 casos em 2019 para 1.586 casos no ano passado. É incorreto atribuir o aumento unicamente às armas de fogo porque a violência é um fenômeno multifatorial. O fator primordial apontado para o aumento é a pandemia do novo coronavírus porque, durante o isolamento, a vítima passa mais tempo com o agressor.

A médio e longo prazo, as consequências do aumento de circulação de armas são outras. Ivan Marques aponta que elas podem se relacionar com o aumento de homicídios porque há uma migração do mercado legal de armas (quem tem autorização para ter acesso às armas) e o mercado ilegal. “Historicamente, essas armas legais vão para o mercado legal porque são roubadas, desviadas, vendidas ou perdidas. Isso já foi constatado no Brasil e em outros países do mundo no passado.”

“De modo geral, só temos a perder enquanto sociedade com o aumento do acesso às armas, mesmo que elas estejam no contexto do mercado legal”, acrescentou o advogado. “Existem diversas consequências, como as que envolvem esquemas de corrupção para desviar armas ou autorizar quem não teria competência para ter acesso.”

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