sábado, 16 de julho de 2011

Em discurso inflamado, Lula aponta 'desconforto da elite'

POLÍTICA

São Paulo (AE) - Em discurso para sindicalistas da União Geral dos Trabalhadores (UGT), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o Brasil não pode permitir que a crise econômica que atinge a Europa e os Estados Unidos prejudique o País. "A gente não pode aceitar que os americanos façam o ajuste da sua política fiscal à custa da desvalorização do dólar, o que cria prejuízo para o comércio dos países mais pobres. A gente não pode permitir que a crise venha causar prejuízo para o nosso País", disse Lula durante o Congresso Nacional da UGT, realizado em São Paulo.

nelson antoune / ae
Lula cumprimenta sindicalistas durante Congresso da União Geral dos Trablhadores

Num tom inflamado, Lula culpou os países desenvolvidos pela crise no continente europeu. "Estamos vendo a Espanha, Portugal e Grécia numa situação delicada. É uma crise que não foi causada pelos países pobres, é uma crise causada pelos países ricos. É uma crise surgida não na Bolívia, não na Argentina, no Paraguai ou no Brasil. É uma crise surgida nos Estados Unidos e na Europa", apontou.

Nos 20 minutos de discurso, Lula fez um balanço de seus oito anos de governo, com destaque para a estabilidade econômica e a forma como o Brasil superou a crise internacional. "Enquanto o Obama já está há mais de dois anos sem resolver a crise americana, enquanto a Europa já está há dois anos sem resolver a crise lá, aqui no Brasil nós dissemos que a crise seria uma marolinha, que ia chegar por último e ia embora primeiro. E foi exatamente o que aconteceu", afirmou.

De acordo com o ex-presidente, seu governo fez uma "pequena revolução" no País ao criar uma nova classe média e tirar milhões de pessoas da miséria. "O que mais encanta o mundo inteiro é que 39 milhões de brasileiros foram para a classe média e 28 milhões saíram da linha da pobreza. Esse é o fato mais inusitado discutido nos debates que eu tenho participado no mundo inteiro. As pessoas querem saber como é que em oito anos você leva 39 milhões a subir de classe", afirmou.

Ovacionado pelos sindicalistas, Lula disse estar orgulhoso por ter feito uma gestão comprometida com os mais pobres. "Eu tenho um olhar meio vesgo para o mais pobre", brincou. Para o ex-presidente, a ascensão social nos últimos anos causa desconforto na elite do País. "Isso incomoda algumas pessoas porque agora pobre viaja de avião. Eu fui agora para a Argentina e está cheio de pobre no avião indo para Buenos Aires, indo para o Uruguai, indo visitar os parentes no Maranhão, no Piauí", comentou. "Tem gente que diz: 'Esse Lula é uma desgraça mesmo, até pobre está andando de carro em São Paulo, estão entupindo as ruas!'"

Durante sua participação no evento, Lula causou tumulto por onde passou. Assediado pelos sindicalistas, o ex-presidente parou para tirar fotos e distribuir autógrafos e teve dificuldades para deixar o congresso. Em seu discurso, chegou a descer do palco para abraçar a plateia, dando muito trabalho aos seguranças para tirá-lo dos braços dos sindicalistas.

Copa do Mundo

Mesmo no meio do tumulto, Lula comentou sobre a confirmação da cidade de São Paulo como uma das sedes da Copa de 2014. "Seria impensável São Paulo não ter a abertura da Copa do Mundo. É o Estado mais importante da Federação, o mais rico e o que tem mais futebol", afirmou o ex-presidente, que já conta com a cerimônia de abertura em São Paulo, embora isso ainda não tenha sido oficializado pela Fifa.

Lula também rebateu aos críticos que colocam em dúvida a capacidade do País em sediar o evento. "O Brasil tem de ser levado a sério", afirmou.

Ex-presidente avisa que vai viajar pelo país

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Siva assegurou que terá uma participação mais ativa na política nacional. "Vou voltar a andar por este país. Vou voltar a incomodar algumas pessoas outra vez," disse ele, ao discursar durante o 2º Congresso Nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT).

Lula destacou que chegou ao fim o período de afastamento voluntário do cenário político que ajudou na consolidação da presidenta Dilma Rousseff à frente do comando do país. "Eu disse, no início do ano, que ia entrar em um processo de desencarnação, para poder permitir a encarnação da presidenta Dilma."

O ex-presidente adiantou que as suas ações serão voltadas à busca de soluções para os problemas sociais. "Embora não seja mais presidente, sou cidadão brasileiro. Como cidadão brasileiro, serei o lobista número 1 das causas sociais. Quem tiver um problema social pode me contar que farei lobby com o Gilberto Carvalho [ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência] e com a presidenta Dilma Rousseff para que a gente possa resolver isso", disse, enquanto caminhava na beirada do palco, cumprimentando os sindicalistas que se esforçavam para fotografá-lo.

Ao falar sobre o seu governo, Lula voltou a usar um de seus bordões mais famosos. "Nunca antes na história deste país houve um presidente que tratou os trabalhadores com o respeito que eu tratei, que recebeu as centrais sindicais a quantidade de vezes que eu recebi." Segundo o ex-presidente, somente os sindicatos "muito pelegos" não conseguiram aumentos reais de salário para as categorias que defendem.

Ele também destacou as políticas voltadas especialmente às populações menos favorecidas como uma marca de seu governo. Lula se autodenominou o "presidente de todos", mas com um "olhar meio vesgo para os pobres". Isso, assinalou, é resultado de sua origem humilde. "É muito importante que você tenha compromisso e não esqueça da onde você veio, para onde você vai voltar e de que lado você está."

Para ele, as parcelas mais abastadas da sociedade não compreendem a importância dos programas sociais de distribuição de renda, como o Bolsa Família. "Os ricos não sabem o que significa R$ 100 na mão de uma mulher pobre."

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