segunda-feira, 29 de junho de 2015

Zeca Camargo critica comoção nacional em morte de Cristiano Araújo: "Pobreza da alma cultural brasileira"

O apresentador da Globo fez uma crônica falando sobre a capacidade do brasileiro de se "seduzir por uma figura relativamente desconhecida"

Por CARAS Digital
Zeca Camargo causou uma grande revolta nas redes sociais na noite deste domingo, 28, por criticar a "comoção nacional" em torno da morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo.

O apresentador fez uma crônica para o Jornal das Dez, da GloboNews, e falou sobre o fato das pessoas que não faziam ideia de quem era o artista terem partido para um "abraço coletivo".

"Muita gente estranhou a comoção nacional diante da morte trágica e repentina do cantor Cristiano Araújo. A surpresa maior, porém, é de ser tão famoso e tão desconhecido. O Brasil, felizmente, tem um punhado de artistas que não passam pelo radar da grande mídia, nem são um consenso popular, mas que levam multidões para seus shows. O que realmente surpreende neste evento triste da semana foi a comoção nacional. De uma hora para outra, fãs e pessoas que não faziam ideia de quem era Cristiano Araújo partiram para o abraço coletivo, como se todos nós estivéssemos desejando uma catarse assim, um evento maior que nos unisse pela emoção", contou Zeca.

Zeca ainda relembrou os grandes funerais públicos, que existem, segundo ele, para "expulgar nossas dores, como se tivessem uma capacidade purificadora". "É só lembrar as despedidas de Cazuza, Ayrton Senna, Kurt Cobain, Lady Diana, Michael Jackson, Mamonas Assassinas. Mas Cristiano Araújo? Sim. Eles sim eram, guardadas as proporções, ídolos de grande alcance. Como fomos, então, capazes de nos seduzir por uma figura relativamente desconhecida?", questionou.

O jornalista fez, então, um curioso paralelo com a onda dos livros de colorir, que se tornaram um grande sucesso no país. "A resposta está nos livros para colorir! Os inesperados vilões do nosso cenário pop, acusados de destacar a pobreza da atual alma cultural brasileira. Não vale a pena discutir os verdadeiros valores do produto, se é que ele existe. Mas eles vem bem a calhar para fazermos um paralelo com a ausência de fortes referências culturais que experimentamos no momento", disse.

Por fim, Zeca -- que é contratado da TV Globo e está prestes a estrear o programa É de Casa nos sábados de manhã -- criticou a "insana cobertura da mídia". "A morte de Cristiano Araújo e a quase insana cobertura de sua despedida vestiu a carapuça de um contorno de linhas pretas num papel branco, só esperando a tinta das emoções das pessoas para ganhar cor e, quem sabe, significado. Como robôs coloristas preenchemos aqueles desenhos na ilusão de que estamos criando alguma coisa. Assim como ao nos mostrarmos abalados com a ausência de Cristiano, acreditamos estar comovidos pela perda de um grande ídolo. Todos sabemos que não é bem assim. Talvez o cantor tenha morrido cedo demais para provar que tinha potencial para se tornar uma paixão nacional. Nossa canção popular é hoje dominada por revelações de uma música só, que se entregam a uma alucinada agenda de shows para gerar um bom dinheiro antes que a faísca desse sucesso singular apague sem deixar uma chama mais duradoura. E, nesse cenário, qualquer um pode, nem que seja por um dia, ser uma estrela maior. Teria sido esse o caso de Cristiano Araújo? [...] Temos tudo para adorarmos ídolos de verdade, e chorar de verdade seja pela presença dele no palco ou na saudade da perda. Mas, agora, olhando em volta, não vemos nada disso", completa o jornalista em seu texto.

Veja AQUI o texto completo.

Nas redes sociais, Zeca foi bombardeado por críticas:



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