FABIANO SOUZA
Da Redação
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Em pleno período junino, quis o destino que a sanfona de Manoel Monteiro Benevides, “Caçula Benevides”, calasse para sempre. Depois de 54 anos de carreira, um dos maiores sanfoneiros do Nordeste sucumbiu a um acidente vascular cerebral (AVC) na manhã desta sexta-feira, 19, aos 68 anos. Caçula estava internado havia cerca de duas semanas no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM), em Mossoró.
Caçula Benevides, além do seu talento que levou o nome da cidade de Caraúbas, sua terra natal, para todo o Nordeste, era figura humana bastante querida e respeitada não apenas na cidade, mas por todos que o conheciam.
Caçula Benevides era casado com Vera Lúcia Benevides e deixou quatro filhos (um homem e três mulheres) e cinco netos.
O velório do sanfoneiro está acontecendo no Centro de Velório na cidade de Caraúbas e seu sepultamento está previsto para a tarde de hoje no cemitério público de Caraúbas.
O artista, em 2011, quando completou 50 anos de carreira, concedeu entrevista à revista Domingo do JORNAL DE FATO, falou sobre sua vida, sua carreira e sobre os grandes nomes da sanfona com os quais, segundo ele, teve a honra de se apresentar. Na oportunidade, ele ressaltou o fato de ter se apresentado algumas vezes com o rei do baião, Luiz Gonzaga, e também com Dominguinhos, que, para ele, eram pessoas simples e cordiais. Além de Luiz Gonzaga e Dominguinhos, Caçula também se apresentou com Waldonis e Dorgival Dantas, entre outros grandes nomes do forró.
Ao longo de sua vida, conseguiu gravar seis CDs e um DVD, todos em parceria com outros amigos sanfoneiros, como Nilson Viana, ou com bandas montadas por ele, como Melão de Cheiro, que o tornaram ainda mais conhecido em toda a região. Alguns dos seus trabalhos foram produzidos pelo sanfoneiro Dorgival Dantas, que ele conheceu ainda criança, quando tocava com o pai dele – Cicero Dantas. “Ele sempre acompanhava o pai e pegava no sono enquanto a gente tocava. Eu o vi crescer e se interessar por sanfona. Hoje, esse rapaz é um grande talento”, disse ele durante a entrevista.
Homenagem do povo de Caraúbas a Caçula Benevides
A Secretaria Municipal de Cultura de Caraúbas e o Conselho Municipal de Política Cultural, através do professor Marcos Roberto Fernandes Gurgel, despedem-se fisicamente do ícone do forró pé-de-serra Caçula Benevides. Seu legado, recheado de originalidade, talento e amor pela sanfona, está registrado para sempre na história e na musicografia nordestina.
Chico de Pombal escreveu para Dominguinhos: “Eu fiz do forró meu hino / E da sanfona a paixão.” Caçula Benevides também fez e o mestre escolheu justamente o período das festas juninas, em que o Nordeste mais celebra a sanfona, para despedir-se de todos nós. Deus o levou de volta, mas agradecemos ao Pai Celestial pelo período em que permitiu que ele ficasse conosco... Caçula Benevides viverá eternizado nos acordes das sanfonas do nosso sertão e continuará a nos encantar!
Poesia em homenagem a Caçula Benevides
“Minha homenagem a Caçula / Ele, uma grande figura / Amizades eram tantas; / Lembro dele tão contente / Com a sanfona de presente / Do amigo Dorgival Dantas. / Com os 180 baixos / Caçula era cabra macho / Tocava com inspiração; / Sempre com muita alegria / Todo mundo o aplaudia / Era mestre no baião. / Nas festas de São João / Era grande a animação / Quando Caçula chegava; / No Chico Pedro, já sabia / Que no amanhecer do dia / A quadrilha ele tocava. / Caraúbas hoje está / Em clima de muita saudade / O forró silenciou; / O pé-de-serra sumiu / Caçula Benevides partiu / A sanfona ele fechou. / Enquanto todos sentiam / Para o céu ele subia / A procura do Senhor; / E quando ele lá foi chegando / Os anjos já anunciando / O Mestre da Sanfona chegou! / E o céu se animou / Quando Caçula chegou / Já estavam lhe esperando; / Luiz Gonzaga e Dominguinhos / Sivuca com o som baixinho / Foram lhe homenageando. / E começaram a festa / E o forró pé-de-serra / No céu vai continuar; / Vamos pedir a Jesus / Pra Caçula muita luz / E a todos nós consolar! /Caraúbas (RN), Junho de 2015. Poesia de Maria do Socorro Fernandes Gurgel (Socorrinha de Demilson).”
Fonte: De Fato
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