Da redação com Tribuna do Norte
Pela primeira vez o Rio Grande do Norte chegou a 2 mil assassinatos num único ano. A triste marca foi atingida neste domingo (22), segundo levantamento feito pelo Observatório da Violência Letal Intencional (OBVIO/RN). O total de ocorrências corresponde a quase sete (6,8) assassinatos por dia no Estado. Em 2016 — de 1º de janeiro a 31 de dezembro —, foram 1988 assassinatos. Projeção feita por especialista do Observatório é que o Rio Grande do Norte chegue ao fim deste ano com 2.300 mortes.
Observando apenas o período que vai de 1º de janeiro até 22 de outubro, houve um aumento de 25,8% de mortes em comparação com o mesmo período do ano passado. De acordo com o coordenador do OBVIO, o especialista em segurança pública Ivênio Hermes, os números não surpreendem. “Infelizmente já esperávamos chegar a marca dos 2 mil homicídios antes do fim do ano. Em junho, fizemos um prognóstico que apontava outubro como o mês que chegaríamos a esse triste recorde histórico. E, segundo esse mesmo prognóstico, deveremos terminar o ano com cerca de 2.300 assassinatos”, comenta.
Dos 2 mil crimes registrados, mais da metade aconteceu na Região Metropolitana de Natal, com um total 524 ocorrências circunscritas apenas na capital potiguar – na sequência das cidades com mais assassinatos estão Mossoró (192), Ceará-Mirim (127), Parnamirim (122) e São Gonçalo do Amarante (103). O levantamento ainda aponta que só em Natal houve um aumento de 10,5% de crimes em relação ao mesmo período de 2016. Dentre os bairros com mais assassinatos estão Nossa Senhora da Apresentação (72), Lagoa Azul (48), Felipe Camarão (42), Quintas (39) e Pajuçara (35).
Para Ivênio, a escalada do crime no Estado é resultado da falta de planejamento das ações em segurança pública e a escassez de investimentos na área. “O início do ano foi marcante por causa das mortes no presídio de Alcaçuz. Mas não foi suficiente para atingirmos essa marca. O que tem acontecido é que não existe programa efetivo de gestão em segurança pública no Estado. Em abril o governo lançou um plano de combate. Se vê que foi falho. Já em maio a escalada de mortes cresceu e a cada novo mês os números estão superados com marcas históricas”, avalia o especialista. Em setembro o OBVIO registrou o mês mais violento, com 228 mortes. “Quando Ceará-Mirím mostrou uma grande incidência de crimes, o governo agiu no município. Mas se percebe que em outra localidade os assassinatos aumentaram. Essas ações pontuais não funcionam”, afirma.
Embora os 2 mil assassinatos já sejam uma marca histórica, o período que vai de 1º de janeiro a 22 de outubro pode reunir uma quantidade maior de mortes, acredita Ivênio. “A mancha de Alcaçuz ainda não está bem explicada. Não se sabe exatamente o número de mortes, nem o paradeiro dos cerca de 70 fugitivos. Ou seja, falta comunicação. Quando essa comunicação é feita corretamente, os números aumentam por causa do alcance da cobertura”, conta.
Dos tipos criminais, o homicídio lidera as estatísticas com 1662 registros. A lesão corporal seguida de morte vem na sequência com 140. Há ainda a ação típica de estado (102), latrocínio (55), feminicídio (34) e outros. Do perfil das vítimas, 1869 são homens, contra 129 mulheres.
A reportagem procurou a secretária Sheila Freitas, na manhã deste domingo (22), mas foi informada através da assessoria de comunicação que ela não iria comentar os dados neste momento. A secretária, em entrevistas anteriores, tem afirmado que maioria dos casos está relacionada ao tráfico de drogas.
Natal é a 5ª capital do Brasil com mais assassinatos de jovens, diz Unicef
De acordo com um estudo do Governo Federal com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em municípios com mais de 100 mil habitantes a taxa de assassinatos de jovens chegou a 3,65 por mil adolescentes – ou seja, para cada mil adolescentes que completam 12 anos, mais de três são vítimas de homicídios antes de chegar aos 19 anos.
A capital potiguar está em 5º lugar no ranking, com a taxa de 7,34, aparecendo na lista depois de Fortaleza (10,94), Maceió (9,37), Vitória (7,68) e João Pessoa (7,34).
O estudo alerta que, se as condições que prevaleciam em 2014 não mudarem, 43 mil adolescentes poderão ser mortos dentro do período de 2015 a 2021, nos 300 mil municípios analisados. Segundo os cálculos da pesquisa, os adolescentes do sexo masculino tinham um risco 13,52 vezes superior ao das adolescentes do sexo feminino, e os adolescentes negros, um risco 2,88 vezes superior ao dos brancos.
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