quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ajuste de cálculo do IBGE deve elevar PIB

MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULO

O IBGE fará a segunda revisão no cálculo do PIB em menos de um ano, o que pode fazer com que o crescimento seja maior em 2013 e em 2014.

A mudança servirá para incorporar os novos dados da produção industrial, que serão divulgados em 15 dias, e que devem mostrar um retrato mais positivo do setor, segundo preveem economistas.

A inclusão ocorre seis meses após o PIB ter absorvido dados lançados em 2013 sobre o setor de serviços.

Além de alterar o crescimento de 2013 -quando o PIB variou 2,3%-, a novidade pode contribuir para um resultado mais positivo neste ano, cuja previsão central dos analistas é de alta de 1,7%.

Economistas só esperam a divulgação da nova pesquisa da indústria para refazer estimativas para o PIB.
Editoria de Arte/Folhapress

No IBGE, técnicos já admitem impacto no PIB de 2013, mas evitam falar "se para cima ou para baixo".

O instituto ainda não concluiu a pesquisa industrial e informou ao mercado que mesmo as informações técnicas só serão detalhadas no dia da divulgação, 7 de maio.

A interlocutores técnicos do IBGE dizem que a incorporação imediata da nova pesquisa ao PIB blinda o instituto de eventuais críticas, caso o crescimento seja fraco.

No final de 2012, o ministro Guido Mantega (Fazenda), insatisfeito com o PIB do terceiro trimestre, disse que pediria ao instituto que revisse os dados do sistema financeiro, cujo desempenho negativo surpreendeu analistas e governo.

Pouco antes da inclusão da pesquisa dos serviços, em 2013, Dilma Rousseff afirmou que esperava aumento no crescimento e que o PIB estava subestimado. O resultado ficou maior, mas aquém do previsto: o PIB de 2012 subiu de 0,9% para 1%. O de 2013 quase não se mexeu.

POLÊMICA

A mudança ocorre em meio à polêmica sobre o adiamento da divulgação de pesquisa mais abrangente sobre o desemprego, a Pnad Contínua, que causou protestos por parte de técnicos do IBGE.

A direção do instituto diz que alterou o cronograma para analisar metodologia do cálculo de rendimento, de forma a não influenciar o Fundo de Participação dos Estados, após pedido de senadores.

A Pnad Contínua apontou desemprego médio de 7,1% em 2013, ante 5,4% na pesquisa tradicional, feita em seis regiões metropolitanas.

BANCOS DE COURO

Se o retrato da indústria é novo, o PIB ainda mantém parâmetros antigos, com base na realidade de 2009. Uma mudança completa do índice está prevista para o início de 2015. Seria no fim deste ano, mas, segundo Roberto Olinto, coordenador de contas nacionais do IBGE, o trabalho só ficará pronto em 2015.

Para incorporar a nova indústria ao PIB antigo, o IBGE terá de fazer adaptações estatísticas -que terão vida curta e só serão usadas neste ano.

Evitar essas adaptações e esperar o novo PIB não seria possível, segundo Olinto.

"Não fui eu que decidi esse cronograma. A pesquisa [da indústria] ficou pronta, eu tenho que incorporar."

Para ele, o PIB tem de ser a melhor medição possível a cada momento e não se trata de injetar combustível aditivado num carro: "Talvez esteja mais para um banco de couro."

Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário