Novidade na corrida eleitoral, candidata do PSB afirmou que gestões do PT e do PSDB 'deram o que tinham que dar'; Aécio lembrou escândalos de corrupção na Petrobras; e Dilma resgatou o discurso de 2010 com críticas à gestão FHC
Felipe Frazão, Talita Fernandes e Eduardo Gonçalves
A candidata Marina Silva (PSB) e o candidato Aécio Neves (PSDB), durante o debate dos presidenciáveis promovido pelo Grupo Bandeirantes, em 26/08/2014 - Ivan Pacheco/VEJA.com
Até poucos minutos antes do primeiro debate entre os candidatos à Presidência, na TV Bandeirantes, as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) ainda estudavam quem criticaria primeiro – e como criticariam – a nova adversária Marina Silva (PSB), cuja entrada na corrida mudou o cenário eleitoral no país. Mas não foi preciso: insuflada pelos números da pesquisa Ibope, divulgada horas antes, foi Marina quem assumiu a artilharia mais pesada e sempre direcionada aos dois rivais simultaneamente. Foram diversas frases, como: "A relação de vocês, PT e PSDB, aparta o Brasil". Ou: "Essa polarização já deu o que tinha que dar" e "nos governos do PT e do PSDB, cada um tem um apagão para chamar de seu".
Repetindo o bordão de que sua candidatura retrata a "nova política" contra a polarização de petistas e tucanos no poder, Marina ainda tentou desarmar seus adversários elogiando as gestões dos ex-presidentes Lula – na área de inclusão social – e Fernando Henrique Cardoso – fiador da estabilidade econômica. "Se olharmos para a história, as conquistas dos últimos vinte anos não vieram dessa ideia de gerente. O Lula não foi gerente, foi um homem de visão estratégica. O FHC não é um gerente, é um acadêmico com visão estratégica. Hoje o Brasil vai ser entregue em condições piores do que quando foi entregue à presidente, que se colocava como gerente."
Quando tiveram a primeira oportunidade, conforme as regras do debate, para dirigir perguntas uns aos outros, os três candidatos mostraram logo as estratégias de cada campanha: 1) Marina perguntou para a presidente Dilma Rousseff por que suas propostas apresentadas ao país em reação à onda de manifestações de junho do ano passado não saíram do papel – evocar os protestos é um dos trunfos do marqueteiro de Marina, uma das poucas conseguir capitalizar diante do desgaste de políticos na época; 2) Dilma questionou Aécio sobre índices de desemprego nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso em comparação aos doze anos de administração do PT – a tática é um resgate do discurso de 2010 de andar colada aos oito anos de governo Lula e forçar comparações com os anos FHC; 3) Aécio Neves questionou Marina sobre a "falta de coerência" entre o discurso da nova política e as alianças que sua chapa firmou nos estados, por exemplo com o PSDB em São Paulo – foi uma tentativa de trazer para o debate a alta popularidade do governador Geraldo Alckmin.
Dilma ainda foi surpreendida por um petardo disparado pelo candidato do PSC, Pastor Everaldo, que a questionou sobre o financiamento de um porto para a ditadura de Cuba ainda que o Brasil tenha gargalos para escoar a produção em seu próprio território. A saída da petista foi afirmar que nos últimos anos o Brasil firmou parcerias com novos países e citou os Brics – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul que lançou um banco de desenvolvimento e fundo de reservas. Para Aécio, a pergunta incômoda partiu de Eduardo Jorge, do PV, para que explicasse sua opinião sobre a legalização do aborto, tema que provocou embates nas eleições de 2010. "O senhor concorda que as mulheres brasileiras que interrompem a gravidez sejam consideradas criminosas?”, disparou, em tom agressivo, o candidato do PV. O tucano respondeu que concorda com a legislação atual. Já Marina, que é evangélica, foi indagada por um jornalista da emissora se introduziria o criacionismo na grade escolar. "O ensino religioso é facultativo. Em 16 anos de atividade parlamentar, ninguém nunca me viu apresentar um projeto defendendo o criacionismo."
No quarto bloco, os candidatos puderam voltar a fazer perguntas entre si. Aécio perguntou se Dilma gostaria de usar o tempo de resposta para pedir desculpas sobre as denúncias de corrupção e pela crise financeira que assola a Petrobras. "Um colega seu de diretoria está preso", afirmou o tucano, em referência ao ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Dilma afirmou que a afirmação era uma "leviandade" e mais uma vez recorreu à comparação com os anos 1990: "Quem investiga é um órgão do governo que antes não tinha essa autoridade, a Polícia Federal. Nós nunca escondemos embaixo do tapete os crimes de corrupção”.
Dilma e Aécio ainda trocaram farpas sobre outros temas sensíveis, como o decreto bolivariano que ela assinou criando conselhos populares em órgãos da administração pública. “A participação popular é importante. Mas na formatação que busca trazer o PT, é algo que avilta um poder que deve ser independente e soberano, que foi eleito pela sociedade brasileiro", disse Aécio. A petista disse que o PSDB “sempre teve receio de participação social".
Com formato longo – três horas de duração, terminando na madrugada de quarta-feira –, o debate esfriou no final. Os três principais candidatos evitaram mais confrontos ríspidos e o debate terminou com longos e repetitivos discursos. Nas considerações finais, Marina citou Eduardo Campos, morto em acidente aéreo, disse que vinha de uma "realidade traumática" e que pretende "governar com os melhores". Dilma citou seu vice, Michel Temer, do PMDB – a presidente pretende investir no apoio de prefeitos do partido para tentar reverter sua rejeição no interior de São Paulo. Aécio despediu-se anunciando que, se eleito, nomeará para o Ministério da Fazenda o ex-presidente do Banco Central de FHC, Armínio Fraga, artífice do chamado "tripé econômico" – inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Foi uma alfinetada do tucano em Marina, que frequentemente usa o "tripé econômico" em seus discursos.
Fonte: veja
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