Zero Hora,
Prestes a completar seis meses de seu segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff rema contra a crise de popularidade. Ajuste fiscal, pessimismo na economia, infidelidade da base e Operação Lava Jato mantêm o governo mergulhado em temas de repercussão negativa. Para reverter o quadro, o Planalto deflagra uma ofensiva de olho em dias mais amenos em 2016.
Reforço na comunicação, plano de concessões, incentivos às exportações e a terceira fase do Minha Casa Minha Vida integram a agenda dos próximos meses, que também inclui compromissos internacionais mais robustos, com visitas aos Estados Unidos e à Rússia.
A parceria com o setor privado e países dispostos a investir no Brasil é o caminho para driblar o caixa combalido. A demora na aprovação do ajuste fiscal e a definição tardia do contingenciamento de R$ 69,9 bilhões do orçamento, anunciado na sexta-feira (22), retardaram as ações de um mandato que se iniciou com panelaços e protestos nas ruas.
Os cortes no Fies e as medidas provisórias que alteraram regras de seguro-desemprego e pensões repercutiram mal na base aliada de Dilma, acusada por tucanos de "estelionato eleitoral" — a investigação dos desvios na Petrobras só ampliou a insatisfação. A derrota para Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na eleição da mesa da Câmara e o rompimento com Renan Calheiros (PMDB-AL) no Senado retardaram o ajuste fiscal e ampliaram o temor de impeachment, cenário revertido aos poucos com a atuação do vice-presidente, Michel Temer, na articulação.
Com diálogo e distribuição de cargos, o Planalto voltou a vencer no Congresso, apesar de alguns tropeços. Em reuniões, Temer insiste na necessidade de aprovar o ajuste fiscal com poucas alterações, já que a conta da flexibilização será paga pelo próprio contribuinte. A ideia é encerrar as votações no próximo mês.
"Vencer o ajuste é necessário para o governo virar a página", diz o senador Humberto Costa (PT-PE).
A dificuldade para romper o tema das contas públicas incomoda o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrou de sua afilhada ações ligadas à base petista. Ao ouvir a justificativa da falta de recursos, Lula sugeriu aprimorar a comunicação:
"Se não tem verba, que se use o verbo".
Dilma alterou a estratégia em março, na troca de Thomas Traumann por Edinho Silva (PT) na Secretaria de Comunicação (Secom). Nas últimas semanas, o Planalto evitou responder polêmicas criadas em ministérios, a fim de blindar a presidente de turbulências.
O novo ministro admitiu a crise de imagem e traçou um planejamento sem imediatismo. Pesquisas internas indicam leve melhora na aprovação do governo, que bateu em 13% nos últimos meses, segundo o Datafolha. A meta é ter avaliação em alta ao longo de 2016 e 2017.
A nova estratégia também quer aproveitar a atual fase de Dilma, que perdeu 15 quilos desde a posse. A presidente deve intensificar conversas com jornalistas e a inserção de vídeos em redes sociais, movimento que agrada parlamentares dispostos a defender o governo.
"Um panelaço aqui ou ali não pode deixar a presidente enclausurada no Palácio", diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
Cinco destaques da agenda positiva de Dilma
Setor produtivo
O Planalto fará anúncios para reaquecer a economia. A principal aposta é o plano de concessões, estimado em R$ 150 bilhões, que contemplará rodovias, ferrovias, portos e aeroportos — pelo menos dois trechos de estradas no Estado e o aeroporto Salgado Filho entrarão no pacote. Os leilões devem ocorrer em 2016.
O Plano Nacional de Exportação trará medidas a fim de estimular as vendas para cerca de 30 países considerados estratégicos pelo governo federal.
Na agropecuária, o Plano Safra deverá superar os R$ 156 bilhões para crédito da edição anterior, porém com juro mais alto.
Programas sociais
A fase 3 do Minha Casa Minha Vida deve, enfim, sair do papel. Aguardada desde o ano passado, a nova etapa ficou engavetada pelas indefinições do ajuste fiscal e do contingenciamento do orçamento da União, anunciado sexta-feira (22). O lançamento está previsto para ocorrer até julho, com indicativo de entrega de 3 milhões de unidades habitacionais nos próximos quatro anos.
No segundo semestre, o Planalto pretende lançar o Mais Especialidades, promessa de campanha. O programa é um aprimoramento do Mais Médicos, com serviços de oftalmologia, ortopedia e cardiologia.
Agenda internacional
Dilma já iniciou uma agenda internacional robusta, voltada para acordos bilaterais com países de maior poderio econômico e tecnológico.
Na terça-feira (19), o Brasil assinou 35 acordos com a China que superaram US$ 53 bilhões, incluindo recursos para Petrobras e a venda de aeronaves da Embraer. Em abril, saíram 10 acordos com a Coreia do Sul.
Nesta segunda-feira (25), a presidente viaja para o México. Nos próximos meses estão previstas visitas oficiais aos Estados Unidos e à Rússia — Japão pode ser outro destino, enquanto é costurada a vinda ao Brasil da primeira-ministra alemã, Angela Merkel.
Visitas aos Estados
De forma gradual, Dilma deve ampliar as viagens para anúncios e inaugurações de obras nos Estados.
Por ora, o plano é realizar ao menos quatro visitas por mês, desde que a agenda permita — na última semana, a presidente permaneceu em Brasília, já que recebeu o colega uruguaio, Tabaré Vázquez, e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
As viagens aumentam conforme o avanço do ajuste fiscal no Congresso e a recuperação da imagem do governo. O Planalto também conta com o reforço dos ministros em entrevistas e anúncios da agenda positiva nas suas bases eleitorais.
Reforço na comunicação
Também de forma gradual, Dilma pretende falar mais — nas redes sociais e na imprensa. O Planalto quer aproveitar melhor o novo visual da presidente, que, aos 67 anos, emagreceu 15 quilos graças a dieta e exercícios físicos.
O encontro com Jô Soares, na segunda-feira (18), serviu como piloto para novas conversas da presidente com jornalistas no Alvorada.
Foram bem avaliados os vídeos em redes sociais que substituíram o pronunciamento em cadeia nacional no Dia do Trabalho. Outras inserções estão programadas, estratégia que também terá falas de ministros.
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