Théo Azevedo
Do UOL, em São Paulo
Em 2011, Erick Passos voltou dos EUA, onde foi cursar Doutorado em Computação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), com uma ideia na cabeça: fundar, com alguns amigos, um estúdio de produção de jogos. Em plena Teresina, no Piauí, nasceu a Sertão Games, que pelo nome já mostrava no que levaria a sério a ideia de criar jogos com uma identidade brasileira.
Três anos depois, cerca de 25 pessoas estão envolvidas na produção do mais ambicioso projeto da produtora, o "Cangaço", um híbrido de estratégia e RPG que retrata os conflitos entre os cangaceiros e os temidos volantes. Atualmente em fase de testes, o jogo será lançado no 1º semestre em versões para PC e Mac - além da plataforma Linux.
Embora a ideia de usar a temática do cangaço soe simpática, o mercado conta uma historia diferente: fracassos de outrora como "Erinia" e "Capoeira Legends", o primeiro baseados no folclore, deixaram a impressão de que utilizar a cultura brasileira não conta muito na hora do vamos ver. Erick discorda: "Por mais que exista uma resistência a jogos nacionais no mercado, acreditamos que isso se dá mais pela baixa qualidade das produções do que pela temática em si".
A Sertão Games sabe que escolheu o caminho mais difícil, mas confia no potencial de “Cangaço”, que vai ter três campanhas single-player, modo multiplayer, arte 3D com texturas pintadas à mão e, claro, trilha sonora típica. Com uma produção tão elaborada, “Cangaço” não será um jogo “freemium”, mas ainda não tem preço definido: “Será um valor adequado e bem dimensionado para o mercado”, conta. Quem comprar terá acesso gratuito a eventuais conteúdos adicionais lançados pela empresa.
De Teresina à Portland
A maior parte da equipe de produção está concentrada em Teresina, onde a criação de jogos ainda engatinha, sem muito histórico. Não que falte mão-de-obra: “Existem ótimos desenvolvedores e artistas [na cidade], que precisavam apenas de um empurrão”, diz Erick. O executivo conta ainda que o surgimento da Sertão serviu de estímulo para o mercado local, que hoje já conta outros projetos e cursos na área de games. O clima é tão bom que, em 2015, a cidade será sede do SBGames, simpósio destinado a produtores e pesquisadores de jogos no Brasil.
Existem ótimos desenvolvedores e artistas [em Teresina], que precisavam apenas de um empurrão
Erick Passos / Sertão Games
Mesmo assim parte da equipe se espalha por outros locais, como Rio de Janeiro, Petrópolis e Portland (EUA). “Apesar de termos o núcleo principal do desenvolvimento em Teresina, buscamos o apoio de alguns profissionais em determinadas áreas para completar as competências necessárias para um projeto desse tamanho”, explica. Dentre os “forasteiros” estão dubladores e um consultor especializado em cangaço.
Para viabilizar tamanha estrutura, que não é nada modesta para os padrões nacionais, a Sertão Games possui um sócio investidor e, além disso, conseguiu apoio via financiamento de Sebrae e Finep, como um projeto do PAPPE (Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas). “Esse financiamento garante a produção completa, lançamento e pós-lançamento do jogo”.
Trocando em miúdos, “Cangaço” custou R$ 200 mil, cifra capaz de garantir a produção do jogo e uma parte em investimento de marketing. O retorno financeiro provavelmente não virá só do mercado local: “É possível o jogo gerar bons resultados apenas no Brasil, mas naturalmente vamos buscar o mercado externo também, até porque é uma das nossas maiores missões: exportar um produto com base na nossa referência cultural”.
DESENVOLVEDORES COMENTAM A CRIAÇÃO DE "CANGAÇO"
Claro que a Sertão Games espera que “Cangaço” seja bem-sucedido e ande com as próprias pernas, viabilizando a continuidade da franquia após o lançamento. Dentre os planos estão um jogo de cartas, uma versão de colecionador, uma nova campanha para download, camisetas, bonés, bonecos etc.
“Cangaço” será vendido por download em sites como Nuuvem e GoG. Além disso, a Sertão vai tentar emplacar o jogo no Steam, através do Greenlight, mas apenas quando a versão internacional estiver finalizada.
Há estudos sobre levar o jogo aos tablets, mas o modelo de negócios dominante na plataforma, o famoso “free-to-play”, não se encaixa na proposta de “Cangaço”. Seria preciso uma adaptação: “Caso a opção se mostre interessante e possamos explorar um modelo de negócio dentro do que planejamos”.
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