terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Obra de adutora atrasa e prejudica cidade com falta d'água no RN

São José do Seridó passa por colapso no abastecimento de água.
Prazo para conclusão de adutora era dia 19 de novembro passado.


Anderson Barbosa e Fred CarvalhoDo G1 RN

Barragem de Passagem das Traíras, em São José do Seridó, RN, tem orbas atrasadas para construção de adutora (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Quatro quilômetros. Essa é a distância que separa a população de São José do Seridó do sonho de acabar com a constante falta d'água. Os quatro mil metros de tubulação do novo sistema adutor da cidade eram para ter sido entregues no dia 19 de novembro passado, mas um erro no projeto atrasou a conclusão da obra. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), o novo sistema de captação, adução, tratamento e reservação do sistema de abastecimento de água da de São José deve ser concluído em setembro do próximo ano.

Enquanto aguardam pela adutora, os moradores de São José do Seridó atravessam um colapso no abastecimento d'água. "Nós dependemos exclusivamente da chuva para acabar com esse sofrimento. Quando chove, tem vida. Quando passamos por uma estiagem como a atual, apenas sobrevivemos", disse o agricultor José Sabino de Medeiros Filho, de 49 anos

Seu Sabino mora no assentamento Caatinga Grande, zona rural de São José do Seridó, cidade distante 280 quilômetros de Natal. Enquanto aguarda a chuva ou a conclusão da adutora, o agricultor contabiliza prejuízos e perdas. "Para você ter uma ideia, tudo o que plantei no ano passado e nesse ano eu perdi. Isso porque, sem água, o feijão, o sorgo e o milho que plantei não vingaram. Para piorar, perdi três vaquinhas e quatro ovelhas, que morreram de sede", lamentou.


MAPA SECA RIO GRANDE DO NORTE (2/12) (Foto: Editoria de Arte/G1)
A situação só não foi pior para Sabino porque, ao perceber que que o quadro da seca estava se agravando, ele decidiu vender parte dos animais que tinha. "Me desfiz de algumas cabeças para poder ter dinheiro para comprar ração e água para os outros que ficaram. Mas tenho fé em Deus que isso irá se resolver em breve".

A água que abastece o assentamento Caatinga Grande vem de carros-pipa. Essa água serve para para os afazeres da casa. Já a água de beber dos cerca de 350 moradores é proveniente de um dessalinizador doado pelo programa Água Doce, do Ministério do Meio Ambiente.

José Sabino de Medeiros Filho, de 49 anos, perdeu boa parte da criação de gado em São José do Seridó, RN (Foto: Anderson Barbosa/G1)José Sabino de Medeiros Filho, de 49 anos, perdeu
parte da criação (Foto: Anderson Barbosa/G1)














A adutora de São José do Seridó vai retirar água da barragem Passagem das Traíras, que fica no município vizinho de Caicó. Sem ser beneficiada pela obra, a aposentada Maria Lucidez de Araújo, de 62 anos, não sofre tanto com o colapso no município. Isso porque o sítio dela fica a menos de um quilômetro da barragem. "Cansado de esperar pela adutora, meu marido resolveu construir um sistema para retirar água da barragem e abastecer nossa casa. Foi a única forma que ele encontrou para não morrermos de sede", contou.

Mesmo assim, a água é pouca e, sem tratamento, não serve para consumo humano. "A água serve apenas para cuidar dos poucos animais que temos, para algumas plantinhas e para cuidar da casa. A vida é sofrida para quem mora aqui. Já pensei em me mudar para a cidade grande, mas meu marido diz que nasceu aqui e que quer morrer aqui, cuidado da terrinha dele".

Até as crianças precisam carregar água (Foto: Anderson Barbosa/G1)

São José do Seridó é uma das nove cidades potiguares que atualmente estão com colapso no abastecimento d'água. Durante três dias, o G1 percorreu mais de 1.200 quilômetros de estradas de terra e asfalto para ver quais são as dificuldades enfrentadas pelos moradores de São José do Seridó e também de Ipueira, Carnaúba dos Dantas, Equador, Antônio Martins, Água Nova, João Dias, Pilões e São Francisco do Oeste. Além da morte de animais e da destruição de lavouras, foi possível ver que os moradores travam uma luta diária pela própria sobrevivência, em busca de água potável.

A obra da adutora em São José do Seridó foi iniciada em 19 de novembro de 2012 e tinha prazo de exatamente um ano para ser concluída. Segundo a Caern, durante sua execução, a empresa contratada observou que a geologia do solo (bastante rochoso) impedia o andamento do projeto original. Por isso, em setembro passado, a obra foi suspensa para uma readequação do projeto. As modificações foram enviadas à Funasa, responsável pela análise e liberação dos recursos, em novembro passado.

Maria Lucidez de Araújo, de 62 anos, teme ter de deixar a comunidade onde mora por causa da seca que atinge São José do Seridó, RN (Foto: Anderson Barbosa/G1)Maria Lucidez de Araújo, de 62 anos, teme ter de
deixar a comunidade onde mora por causa da
seca (Foto: Anderson Barbosa/G1)
Essa readequação irá custar R$ 400 mil a mais na obra. "Originalmente, os recursos tinham a ordem de R$ 2,7 milhões, e com a readequação foi para R$ 3,1 milhões, tendo sido executado R$ 1 milhão na construção de uma adutora por gravidade, que está hoje 70% concluída. O dinheiro a ser liberado será utilizado para finalizar esta adutora (quatro quilômetros) e, ainda, a execução de dois reservatórios elevados, uma Estação de Tratamento de Esgotos e uma adutora por recalque", diz nota emitida ao G1 pela assessoria de imprensa da Caern.

A Caern diz ainda que alterou o material a ser utilizado para os reservatórios, aumentando a resistência, o que vai garantir uma maior durabilidade dos reservatórios. Ainda de acordo com a Companhia, a previsão é de que a Funasa libere até janeiro próximo o valor restante necessário para concluir a obra. O superintendente da Funasa, Antonio Barbosa, rebateu a informação da Caern e afirmou que os recursos estão disponíveis desde 2011 e já foram liberados 40% do valor total da obra, mas não foram executados 40% da obra. “Quando eles executarem 40% da obra nós liberamos a segunda parcela”, disse.

Placa na entrada da cidade de São José do Seridó mostra que obra de adutora já deveria ter sido concluída (Foto: Anderson Barbosa/G1)

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