Comércio local abastece moradores de cidades potiguares e cearenses.
Se para alguns a seca é um momento de crise e de contabilizar os prejuízos, para outros nada mais é que uma oportunidade de fazer dinheiro e de somar os lucros. Apesar de conviver com a escassez e interrupção no fornecimento de água, os comerciantes da cidade de São Miguel, na região Oeste potiguar, optaram pela segunda opção. O Rio Grande do Norte enfrenta a pior estiagem dos últimos 100 anos, segundo o próprio governo do estado. Na cidade, no entanto, a venda de recipientes para armazenamento de água vem garantindo o alívio de boa parte dos lojistas.
Para ver de perto os efeitos da estiagem no interior potiguar, equipes do G1 e da Inter TV Cabugi percorreram aproximadamente 1.400 quilômetros durante cinco dias. Foram visitadas 19 cidades no Seridó e Oeste – regiões que mais vêm sofrendo com a escassez. Entre elas está São Miguel, uma das onze cidades do estado que atualmente enfrentam colapso no abastecimento d’água. As outras são: Acari, Antônio Martins, Carnaúba dos Dantas, Currais Novos, João Dias, Luís Gomes, Paraná, Pilões, Riacho de Santana e Tenente Ananias.
Já em Apodi, Caicó, Itajá, Jucurutu, Lucrécia, Parelhas, Pau dos Ferros e São Rafael, foi constatado que o nível das barragens vem baixando rapidamente e que a paisagem está mudando a cada dia. Muitas famílias já estão pensando em ir embora. Algumas, para fugir da seca, falam até em buscar uma sorte melhor em outros estados.
São Miguel fica no meio de uma região de serra com pouco mais de 23 mil habitantes, de acordo com o último sendo do IBGE. O comércio forte, segundo os próprios moradores, nasceu de uma posição geográfica favorável. O município é cercado por seis cidades. De um lado, as potiguares Doutor Severiano, Venha-Ver, Coronel João Pessoa e Encanto. Do outro, as cearenses Icó e Pereiro.
“Todas essas cidades também sentem muito os efeitos da seca. Hoje, a venda de baldes aqui em São Miguel representa mais de 30% do nosso lucro. No meu comércio é assim”, afirmou Hélio Alves, de 46 anos. Dono de uma loja típica de produtos para o dia a dia no campo, o comerciante acrescentou que antes de a cidade entrar em colapso o grosso das vendas dele estava nas ferramentas, chapéus de vaqueiro e gaiolas para passarinhos. “Agora, o que sai muito são os depósitos de água. Além de baldes, também temos galões, bacias, tambores, tudo que é recipiente nós vendemos. Os menores, de 5 litros, custam R$ 3. Os grandões, que armazenam até 250 litros, vendo por R$ 90”, revelou.
‘Banho só de passar a mão’
A primeira opção, a do sofrimento, ficou para a dona Rita Maria de Jesus. Ela tem 65 anos e mora sozinha numa casinha de sapê às margens da estrada. Embora aposentada, para se manter ela ainda precisa colher. “Planto feijão e milho. O roçado é um caminho que faço todos os dias, desde criancinha. O dinheiro é pouco, por isso tenho que correr atrás do que como. Antes da seca, a gente pegava água no riacho. Agora, com tudo seco, haja tristeza”, disse ela.
Na despensa de dona Rita não tem muita coisa. A cozinha é acanhada, de teto rebaixado, que quase não dá para ficar de pé. “Eu sou pequena. Dá direitinho”, animou-se. Quando o assunto é água, a alegria acaba. “A água que eu tenho eu guardo em um jarro de barro. Para as outras coisas que é ruim. O banho é só de passar a mão. Molha as mãos e passa no rosto, no pescoço, esfrega um sabãozinho e pronto”, resumiu.
Emergência
Segundo o serviço de meteorologia do estado, esta é a pior seca dos últimos 100 anos. E para o ano que vem as previsões não são otimistas. Dos 167 municípios potiguares, 153 estão em estado de emergência em razão da estiagem prolongada. Destes, 122 são abastecidos por caminhões-pipa. O decreto foi publicado pelo governo do estado no dia 28 de março deste ano e tem validade de 180 dias. Segundo o documento, as chuvas ocorridas no segundo semestre do ano passado e início de 2015 foram insuficientes para a formação de estoques de água potável nos reservatórios.
Para decretar a emergência, o governo consultou a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn), que previu chuvas abaixo da média histórica para este ano, além de também levar em consideração os R$ 3,8 bilhões de prejuízo causados pela escassez hídrica em 2014.
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