Mais um levantamento feito pelo Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) comprova que o número de ocorrências atendidas no Pronto Socorro Clóvis Sarinho (PSCS) devido a acidentes envolvendo moto, continua a crescer. Apenas dois meses após a última coleta de dados feita pela unidade (em julho passado), a quantidade de boletins registrados passou dos 25 para os 28 diários. É a segunda vez este ano que os motociclistas são responsáveis pelo maior número de atendimentos no maior hospital de urgência do Rio Grande do Norte (RN).
Os dados levantados pela assessoria de Imprensa do Walfredo Gurgel, apesar de alarmantes, mostram apenas parte do problema que atinge estradas do Estado e as ruas da capital. Órgãos como a Polícia Militar de Natal (PMN) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) do RN também possuem estatísticas preocupantes sobre o assunto. O Setor de Tráfego do Comando de Polícia Rodoviária Estadual (CPRE) contabilizou de janeiro a agosto deste ano, um total de 1.864 ocorrências com motos. Destes, 1.125 envolvidos foram autuados.
Nas estradas federais a situação também é grave. Segundo o inspetor da PRF, Roberto Cabral, “cerca de 40% das mortes registradas nas rodovias federais do RN envolvem veículos sobre duas rodas”. Ainda segundo ele, “é preciso implementar a fiscalização nos interiores. Em muitas cidades onde ainda não há fiscalização do Estado, não se usa capacete e andam de três a quatro pessoas em cima do veículo”, diz.
Dados fornecidos pelo setor de comunicação da PRF contabilizam, do início do ano até o fim de setembro, um total de 780 ocorrências de pessoas envolvidas em acidentes com veículos sobre duas rodas (motos, motonetas e ciclomotores). Deste total, 511 sofreram ferimentos leves, 267 sofreram ferimentos graves e 50 foram a óbito.
A diretora geral do HMWG, Maria de Fátima Pereira Pinheiro, vê o quadro com preocupação. “Há muito tempo estamos pedindo, apelando para os órgãos competentes e muito pouco tem sido feito. A Lei Seca, as blitze estão sendo postas realmente em prática ou não estão sendo suficientes para conter essas ocorrências no trânsito?”, questiona Fátima Pinheiro .
Para a diretora técnica, Hélida Maria Bezerra, a melhor forma de tentar diminuir a incidência e a letalidade desses acidentes, continua sendo a adoção de medidas coercitivas mais duras e uma maior penalidade para os infratores, principalmente para os reincidentes.
“É como já disse antes, essa é uma conta muito alta que todos nós pagamos. Além dos custos hospitalares elevados, os pacientes mais graves demandam um maior tempo de internação, por vezes, em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), há ainda o fator previdenciário que onera a União e põe uma pessoa que estava em idade produtiva, para fora do mercado de trabalho”, pondera.
Acidentados de moto relatam traumas
Ainda em 2004, quando a média de ocorrências com moto no Pronto Socorro apontava para 4,7 boletins/dia, a infectologista e ex-diretora do HMWG, Rosângela Morais, já alertava para a crescente demanda de pessoas com sequelas graves (como traumas raquimedular, lesões de coluna), e as dificuldades enfrentadas no pós-acidente.
“Muitas vítimas são jovens e sem doenças de base (diabetes, hipertensão, cardiopatias), mas, devido à inabilidade adquirida, chegam a desenvolver infecções do trato respiratório, urinários ou até lesões de pele (como úlceras de pressão) e, a partir disso, passam a viver de internações repetidas”, afirma a médica.
O garçom, Adriano Leonardo Teixeira da Silva, 28 anos, está internado na enfermaria do quarto andar do hospital há cinco dias e foi vítima de uma colisão de sua moto com um carro. Pilotando há cerca de 10 anos, ele diz que já havia sofrido pequenos acidentes, mas nunca nada tão sério como agora. Ele teve trauma em ambos os pés: no direito - fratura em quatro dos cinco dedos. No esquerdo: perda de substância e partes moles (músculos e pele). Mesmo passando pela dura realidade de uma internação, Adriano não vacila quando questionado se, depois de totalmente recuperado, voltará a pilotar. “Sim. É meu meio de transporte. Não tenho condições de possuir um carro agora”, justifica.
Situação similar vive o mecânico em eletrotécnica, Jevani Gomes da Silva, 38 anos. Morador do município de Extremoz, ele foi atingido por um alternativo quando ia deixar um primo em casa. Com um corte profundo no pé esquerdo, ele aguarda por uma cirurgia de enxerto que levará a reconstrução do membro ferido. Apesar de andar sobre veículos de duas rodas há 20 anos, ele garante que pensa em deixar a moto de lado. “Penso em largar, trocar por um carro. No dia que eu tiver a oportunidade eu troco”, garante.
TRIBUNA DO NORTE
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