terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Seca prejudica produção e beneficiamento de minérios

Andrielle Mendes - Repórter

A falta d'água para a exploração e beneficiamento de minério, decorrente da seca no Rio Grande do Norte, tem levado várias mineradoras a reduzir a produção e conceder férias a boa parte dos funcionários. A Mineradora Nosso Senhor do Bonfim, inaugurada em setembro de 2012 em Lajes, chegou a reduzir a produção pela metade. Segundo o presidente da empresa, Luiz Antonio Vessani, a mineradora está operando abaixo da capacidade desde dezembro. Ele ainda não calculou os prejuízos, mas garante que está operando 'no vermelho' há pelo menos seis meses.

Divulgação
A mina de ouro Crusader, em Currais Novos, busca alternativa para garantir abastecimento d´água

O açude que abastecia a mina secou e a água do 'fundo da mina' está diminuindo. Para não suspender as atividades, a Bonfim tem tratado só 2,5 mil toneladas das 5 mil toneladas de minério que costuma tratar por mês. O volume de scheelita e ouro produzidos em solo potiguar caiu pela metade. Não há uma data para retornar ao patamar original. 

A mineradora chegou a conceder férias coletivas para 60 dos 140 empregados em dezembro. Aos poucos eles reassumem os postos. "Paramos de beneficiar no mês passado. Só lavramos. Vamos voltar a beneficiar o minério, por isso os funcionários estão voltando". Vinte funcionários permanecem de férias. Vessani diz que a água disponível acabará dentro de três meses. Caso não chova até lá, a produção será totalmente paralisada. "Não temos como manter a produção, se não chover". A suspensão das atividades, segundo ele, acarretaria na demissão de parte dos funcionários. Vessani cogita pedir ajuda ao governo. 

A Mineradora Nosso Senhor do Bonfim, segundo Otacílio Carvalho, mestre em Geologia pela Universidade de Brasília (UNB) e professor de Geologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RN (IFRN), não é a única afetada no estado. De acordo com o Sindicato da Mineração do RN, todas as mineradoras que dependem da água de açudes ou poços estão enfrentando este problema. 

A Mineração Currais Novos, do grupo Canadense Largo Resources, chegou a interromper o beneficiamento de scheelita durante dois meses. As atividades foram retomadas no início deste mês depois que a empresa gastou R$ 100 mil na perfuração de 14 poços. A solução, reconhece Joab Fernandes, assistente administrativo da mineradora, é paliativa. "Acreditamos que a água dos poços acabará dentro de três ou quatro meses", afirma. Segundo ele, a mineradora chegou a conceder férias para 20 dos 49 funcionários, em dezembro, quando o açude secou.  

Ainda em fase de pesquisas, a mina São Francisco, do grupo australiano Crusader, não chegou a ser afetada. A falta de água, no entanto, já preocupa o diretor-presidente da empresa, Robert Smakman. "A oferta de água é um grande desafio para o nosso projeto. Não começamos a produzir ainda, mas já estamos procurando uma alternativa para garantir água", afirmou. 

Para evitar que projetos como esse sejam inviabilizados pela falta d'água, fundamental, segundo os empresários para a atividade, o Sindicato de Mineração do RN agendou uma audiência com o governo do estado para o final de fevereiro. O objetivo, segundo Mário Porto, presidente do sindicato, é buscar uma solução a curto prazo.  A Secretaria de Desenvolvimento do RN foi procurada no início da noite, mas não disponibilizou porta-voz. 

Só a Bonfim consome 500 mil litros d'água por dia.

RN registra exportação de ouro e baixa nas vendas globais

O ouro, um dos minérios explorados pelas empresas afetadas pela queda do nível dos reservatórios no Rio Grande do Norte, voltou a ganhar espaço na pauta de exportações potiguares. Em janeiro, o estado exportou seis quilos de ouro, o que lhe rendeu US$ 332,9 mil. Em 2012, também foi registrada exportação do produto, segundo o economista e  chefe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no RN, Aldemir Freire.   De forma global, considerando todos os produtos negociados com outros países, o estado iniciou o ano com queda no valor exportado.

O RN, de acordo com  dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), exportou US$ 23,4 milhões em janeiro deste ano. O valor, que reflete os efeitos da seca no RN, foi 15,8% menor que o exportado no mesmo período do ano passado (US$ 27,8 milhões). Os principais produtos exportados em janeiro de 2013 foram melão (US$ 8,16 milhões), castanha de caju (US$ 2,6 milhões), e sal marinho (US$ 1,3 milhão). 

Segundo Aldemir Freire, a queda das exportações em janeiro dá sequência a uma tendência que se esboça desde o fim de 2008. "De lá para cá, quando olhamos para o gráfico das exportações do estado acumuladas em 12 meses vemos  uma tendência de queda. Essa tendência foi interrompida ao longo de 2011, mas voltou a se manifestar em 2012". 

Ele observa que nos 12 meses encerrados em janeiro de 2013 o estado havia exportado cerca de US$ 256,8 milhões. "Já em janeiro de 2012 as exportações acumuladas em 12 meses haviam sido de US$ 290,6 milhões". Uma diferença de US$ 33,8 milhões. A tendência, segundo o economista, é o que RN feche 2013 exportando menos ainda do que exportou em 2012. "Ainda é cedo para fazer projeções, mas não acredito em recuperação. Não vejo nenhum setor esboçando alguma reação", justificou. O estado, que sofre com os efeitos da seca, iniciou o ano como o quarto que menos exportou na região Nordeste, em termos de valor.

TRIBUNA DO NORTE

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