domingo, 7 de dezembro de 2014

Público aumenta e ocorrências policiais crescem na segunda noite do carnatal

Trabalhadores anônimos também viram foliões e se divertem na maior micareta do Estado

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Marcelo Lima
Marcelolimanatal@yahoo.com.br

Enquanto Cláudia Leitte, Bell Marques, Durval Lelys e Tuca Fernandes davam voltas na praça de eventos da Arena das Dunas ao som da Axé Music, centenas de trabalhadores impulsionavam a engrenagem do Carnatal 2014. Catadores, ambulantes, cambistas, socorristas e outros que desempenham papel na festa, mas que quase sempre são percebidos como parte integrante da paisagem. Desses, os profissionais da segurança também tiveram um papel de relevo já que na sexta-feira tradicionalmente os crimes crescem na micareta.

Do lado de fora do circuito fechado, uma pipoca morna e bem menos numerosa do que nos momentos áureos se concentrava na Avenida Lima e Silva como ocorreu ontem (5). Com as mudanças viárias no entorno da Arena das Dunas, o viaduto da Prudente de Morais transformou-se num camarote expresso. Muita gente que passa no carro, moto ou bicicleta não resiste à vista e para por alguns instantes para vislumbrar um enquadramento privilegiado do Carnatal.

Foi o que fez o conferente de uma distribuidora de alimentos. Vando Cabral saiu da empresa localizada na Cidade da Esperança por volta das 21 horas e foi de bicicleta. Nas suas contas faz 10 anos que não ia olhar o Carnatal. Na volta, ganhou um espaço privilegiado para observar.

“Quando cheguei na Prudente de Morais vi dois rapazes e fui o terceiro a chegar aqui”, disse. Mas parar no meio de uma via com fluxo corrente não o deixa tão seguro como em um camorote comum. “Eu tô com um olho lá e outro cá. O risco diminui porque o pessoal tá passando ‘devargarinho’ pela curiosidade”, falou apontado para os trios elétricos e depois para o trânsito.

Outras pessoas não subiram até o ponto mais alto do viaduto, mas ainda assim usaram a estrutura para se acomodar. Foi o caso da cozinheira Kaline Caxias, de 34 anos, e seu marido. “Acho que melhorou por um lado, com mais segurança, melhorou o trânsito. Mas piorou porque era melhor na rua, porque a gente ia acompanhando o trio”, analisou as mudanças.

Quem também não gostou do novo formato foi o vendedor ambulante Francisco Inácio da Silva. Como os vendedores ambulantes ficaram de fora da festa, os lucros naturalmente caíram. “Em outro ano, por uma hora dessa [21h30] já tinha faturado uns R$ 400,00. Hoje eu tenho um pouquinho mais da metade disso”, contou o ambulante que vende água, refrigerante e cerveja.

Outro indício que o faturamento no entorno diminuiu a pouco número de comerciantes que, muitos deles, vinham até de outros estados. “Vinha muito vendedor de fora, de Maceió, Caruaru, da Bahia, mas esse ano eles não vieram porque é fechado”, observou Francisco da Silva.

Força da festa

Nos bastidores da festa, muita gente empresta sua força de trabalho para um dos maiores espetáculos de diversão do Rio Grande do Norte. Mas nem por isso deixam de se divertir também. É o caso do ex-cordeiro Márcio Ailton, trabalhou por sete anos na função. Com a extinção da corda, foram criadas as linhas de frente e de fundo, com as quais se delimita o início e o fim do bloco. Márcio conseguiu uma vaga na linha de fundo do bloco Vumbora. Por cada noite trabalhada, ele vai ganhar R$ 35.

Para Márcio, é um bom negócio, já que está desempregado desde que saiu do seu antigo emprego de vigilante. O morador do conjunto Nova Natal acredita que Bell Marques é o melhor puxador de trio do Carnatal e não troca ele por outro. Entre um avanço e outro da linha de fundo, Márcio ensaia um passos no meio do corredor da folia. “Tudo no Carnatal é bom. Dá pra gente se distrair um pouco da vida, dá pra esquecer um pouco do mundo”, comentou.

Quem também é uma antiga trabalhadora-foliã do carnaval fora de época é a catadora Ana Maria da Silva, de 49 anos. Além da mudança no circuito, muita coisa mudou para ela. O seu marido que sempre a acompanhava trabalhando na festa morreu em outubro deste ano. “Se não tivesse morrido, ele tava aqui. A gente é fã de Bell. Antes era eu nas cordas e ele catando”, relembrou Ana Maria. Agora ela está Coocamar, cooperativa que fechou parceria com o Carnatal. No seu ponto, solitária, ela houve e som da festa e suporta a saudade até o fim do expediente.

Folia

A cantora Cláudia Leitte invariavelmente chama atenção entre os marmanjos que carregaram multidões pelo percurso. Toda vestida na cor verde, seu bloco iniciou os trabalhos por volta das 19h20. Logo no início, a carioca-bahiana relembrou dos tempos do Babado Novo, grupo que a lançou nacionalmente. Outra atração do seu bloco foi o ator Tiago Abravanel, filho de Silvio Santos, mas que atua em novela da TV Globo.

Entre os milhares de foliões do Largadinho, estava o servidor público Eduardo Gomes, de 33 anos. Aos 18 anos de idade ele sofreu um acidente de moto e perdeu o movimento das pernas. Na avenida, ele estava ao lado da família e amigos. “Tudo isso me fez enxergar que vale a pena viver e ser feliz. Para quem se deprime quando isso acontece, eu digo sempre que busque a felicidade, o esporte porque muda a vida”, disse na autoridade de quem é atleta de basquete.

Segurança

O número de ocorrências cresceu significativamente em relação ao primeiro dia do evento. Mas tudo dentro do esperado pela Polícia Militar. “É uma tendência natural porque na sexta e no sábado o público cresce e as ocorrências policiais crescem também proporcionalmente”, explicou o coronel da PM Túlio César. A expectativa da organização do evento é que o pico de circulação de pessoas na praça de eventos da Arena das Dunas chega a 40 mil por noite.

Na quinta-feira, a Polícia Militar registrou apenas quatro ocorrências (dois furtos na área interna e uma lesão corporal e uma ameaça na área externa). No segundo dia, houve 38 ocorrências.

Com a nova configuração da festa, a Polícia Militar separa a contagem de acontecimentos policiais entre perímetro externo e interno da festa. Do total registrado na sexta-feira, 17 ocorreram dentro do evento fechado e 21 no entorno da Arena das Dunas. Dentro da festa, aconteceram 13 furtos, um roubo, duas ameaças e uma lesão corporal em decorrência de briga. Na pipoca, a polícia registrou 15 furtos, três perdas de documentos, uma ameaça e uma lesão corporal leva em decorrência de briga.

Ainda segundo o coronel Túlio, o número de militares que corporação coloca à disposição do evento também varia de acordo com a expectativa de público. No primeiro dia da micareta, 120 PMs foram mobilizados. Ontem foram 180 e hoje o coronel afirma que serão 350 militares. O Carnatal também conta com reforço da Polícia Rodoviária Federal e Guarda Municipal.

Fonte: O Jornal de Hoje

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