domingo, 4 de agosto de 2013

Agronegócio Dívidas inviabilizam renovação na cultura canavieira potiguar

Há chuvas e estímulo financeiro. Mas os impulsos não serão suficientes para recuperar as perdas do setor canavieiro do Rio Grande do Norte, com a seca, de acordo com fontes ligadas à atividade. O estímulo mais novo, a redução de taxas de juros para renovação dos canaviais – anunciado na semana passada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – não deverá surtir efeito no estado, onde o índice de endividamento gira em torno de 70%. “A situação do setor só será revertida quando o governo começar a se preocupar com essa questão, do endividamento”, diz o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do RN (Faern), José Álvares Vieira. Em Baía Formosa, sede de uma das duas usinas em operação no estado, o plantio da cana que será colhida em 2014 começou, mas as projeções são negativas e há também menos trabalhadores em campo.

Magnus Nascimento
Empresa que atua no município de Baía Formosa (RN) começa a preparar a nova safra, que inicia em setembro: Nem a socaria, que é a raiz da cana, resistiu à seca

Redução de juros não anima o RN

Andrielle Mendes - repórter

O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), braço operacional do governo federal, anunciou no último dia 29 a redução dos juros para renovação dos canaviais no país. A medida, que tem como objetivo estimular a produção, no entanto, não surtirá os efeitos esperados no Rio Grande do Norte.

O endividamento do setor canavieiro, que gira em torno dos 70% no estado, impede que os produtores acessem os recursos e ampliem o volume produzido.

Segundo Renato Lima, presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Rio Grande do Norte (Asplan) e membro da Associação Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), o cenário no RN pouco mudará.

“O barateamento do crédito não vai acelerar a recuperação da cultura canavieira no estado. Setenta porcento dos produtores – incluindo as usinas - não tem condições de pegar esse crédito por conta do endividamento”, justifica Renato.

Magnus Nascimento
Cortadores de cana na usina Vale Verde, em Baía Formosa: Irrigação não evitou perdas com a seca

Apesar das chuvas que caíram recentemente, a previsão é de queda na produção. Segundo estimativa da Asplan, o volume de cana de açúcar, açúcar e etanol produzidos deve recuar 40% no Rio Grande do Norte na próxima safra, que inicia em setembro.

O percentual é 25 pontos percentuais superior ao esperado para o Nordeste, onde a produção deve recuar 15%, segundo estimativa do Fórum Nacional Sucroenergético, que congrega todas as entidades que representam os produtores de etanol, açúcar e bioeletricidade no Brasil.

Na usina Vale Verde, em Baía Formosa, uma das duas em funcionamento no RN, a produção já recuou 34,6%, com relação a 2010/2011 – safra anterior a seca. A unidade, que realiza neste momento o plantio da cana para colheita em 2014 e é uma das oito controladas pelo Grupo Farias no país, chegou a produzir até 1,3 milhão de toneladas por safra. Nesta safra, porém, produzirá 850 mil toneladas, o mesmo que produziu em 1993.

Seca

Com a seca, parte do canavial secou. Nem a socaria, que é a raiz da cana de açúcar, resistiu. “Aumentamos em 20% a área irrigada e ainda assim perdemos parte do nosso canavial. O reflexo disso foi a queda de produção. Mesmo com todo o investimento que fizemos, voltamos a produzir o mesmo que produzíamos há 20 anos”, observa Arnaldo Andrade, diretor agrícola da usina e gerente regional agrícola do Grupo Farias. O número de pessoas empregadas no plantio este ano também recuou - caiu de 1,2 mil para 350. A situação, segundo Renato Lima, da Asplan, é generalizada.

Para voltar a produzir o que produzia, o grupo, afirma Arnaldo, terá que intensificar os investimentos e recuperar mais hectares por ano. Bruna Farias, diretora executiva do grupo, admite que tentará acessar o crédito disponibilizado pelo BNDES, mas reconhece: “esta redução (da taxa de juros) não contemplará grande parte das empresas, pois o acesso ao programa de renovação de canaviais do banco é muito restrito”.

A multinacional Louis Dreyfus Commodities, que controla a usina Estivas, em Arês, e o grupo M. Dias Branco, que controla a Ecoenergias, em Ceará Mirim, foram procurados pela TRIBUNA DO NORTE, mas não responderam ao pedido de entrevista até o fechamento desta edição.

TRIBUNA DO NORTE

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