domingo, 27 de outubro de 2013

No mês em que faria 80 anos, Garrincha é motivo de disputa política em sua terra natal

PEDRO VENANCIO
ENVIADO ESPECIAL A PAU GRANDE (RJ)
Mané Garrincha
Em julho deste ano, a família de Mané Garrincha chegou a acreditar que estava realizando um sonho. Uma casa no centro de Pau Grande, distrito de Magé e terra natal do craque, iria se tornar um memorial que contaria sua vida e onde o acervo do craque pudesse ser exposto.

A inauguração foi marcada para o dia 12 de julho, mas a casa só ficou um dia aberta.


Uma briga política entre o secretário de Esportes e Lazer de Magé, Miguelangelo Pelegrino (PRB), e o prefeito da cidade, Nestor Vidal (PMDB), terminou com a exoneração do secretário, idealizador do projeto.

Campeão do mundo em 1958 e 1962 e considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, Garrincha, que completaria 80 anos neste mês, continua sem um museu que conte a sua história.
Daniel Marenco/Folhapress

Campinho da barreira, onde Garrincha jogava bola na infância, em Pau Grande (RJ)


"É uma vergonha. Já se passaram mais de 30 anos, a prefeitura passa de mão em mão, todos dizem que vão fazer esse museu e ninguém faz. Acho que se ele tivesse morrido rico, essa homenagem já teria acontecido", diz Alexandra dos Santos, neta do craque, que expõe algumas fotos do avô na lanchonete "Garrinchinha".

"Muitos clientes olham para as fotos do meu avô e choram, se emocionam", conta.

A Prefeitura de Magé justifica que o projeto era do secretário exonerado. Pelegrino afirma que já tem um terreno e que busca recursos para construir um memorial.

As brigas envolvendo Garrincha chegaram ao cemitério da cidade. A prefeitura construiu um mausoléu, mas a irmã dele, Rosa, impediu a transferência dos restos mortais. O jogador está até hoje sepultado junto com o ex-vizinho Jorge Rogonisky, em uma sepultura pintada recentemente.

Reza a lenda local que o coveiro responsável pela pintura, Francisco de Souza, o Pará, às vezes senta perto do túmulo com uma garrafa de pinga para conversar com Mané. Ele nega: "De vez em quando sento aqui, converso com ele, mas não bebo não, tenho medo de ele levantar e começar a falar comigo", diz, em um misto de brincadeira e crença no sobrenatural.

Garrincha ainda é muito presente no cotidiano da cidade. Ele dá nome ao estádio do Esporte Clube Pau Grande (então time da fábrica onde ele trabalhava e no qual foi descoberto para o futebol profissional), a um Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) e a uma choperia.

E tem também um busto em sua homenagem.

O campinho da barreira, onde jogava suas peladas, continua do mesmo jeito, assim como várias características do distrito onde viveu sua infância na década de 30.

É da mata onde caçava passarinhos que vem o apelido que tornaria Manoel dos Santos conhecido. Havia por ali um pássaro muito comum chamado de garrincha.

Nas ruas, os mais velhos sempre relembram uma história do filho ilustre.

"Ele me indicou para o Madureira, me ajudou muito, mas eu não tive cabeça para seguir no futebol", diz Carlinhos Miúdo, ponta direita reserva de Garrincha no Esporte Clube Pau Grande.

"Muitas pessoas falam do Garrincha como um alcoólatra. Eu gosto de lembrar dele como alguém que viveu uma vida feliz, simples, e foi o verdadeiro rei do futebol. Aqui em Pau Grande, temos a certeza de que a coroa está na cabeça errada", conta Alexandra, que quase não conviveu com o avô.

Folha de São Paulo

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