terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Aumenta o abate de matrizes leiteiras no RN

Produtor se desfaz de matriz leiteira

Andrielle Mendes - repórter

O abate de vacas no Rio Grande do Norte subiu 44,47% entre janeiro e setembro de 2012, em comparação com o mesmo período de 2007, e foi o maior dos últimos cinco anos para o período. Os dados do último trimestre do ano passado ainda não foram divulgados pelo IBGE, mas o balanço parcial já coloca o RN entre os três estados que registraram aumento no abate de matrizes leiteiras entre 2007 e 2012 no Nordeste. O aumento, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária (Faern), é resultado da descontinuidade do pagamento do Programa do Leite e da seca. "Com os atrasos no pagamento, muitos produtores venderam as vacas. A seca agravou ainda mais este quadro", afirma José Vieira, presidente da Faern.

Divulgação
Problemas no fornecimento fizeram preço da saca de milho para alimentação do rebanho subir a R$ 60 no mercado paralelo do RN

A descontinuidade do fornecimento de milho - usado para alimentar o rebanho - a preços subsidiados também contribuiu para o aumento do abate de vacas no estado. Sem estoque de milho, algumas unidades, como a Caiapós, em Natal, chegaram a suspender o fornecimento por algumas semanas. Em várias delas, havia fila de espera. 

O milho já está sendo enviado para o estado, confirma João Lúcio, superintendente da Conab no RN, mas chega em quantidade insuficiente. Os estoques ainda estão baixos e a cota foi reduzida pela metade. Quem tem direito a 120 sacas de 60 quilos, só pode levar 50, mesmo que possa pagar por mais. O racionamento atinge todas as unidades. 

O RN pode armazenar até 34.100 toneladas de milho, mas no momento só tem em seus armazéns 1.990 toneladas - volume 17 vezes inferior. A superintendência local da Conab já solicitou o envio de mais 110 mil toneladas para o ano de 2013 - volume 18,2% maior que o solicitado no ano passado - mas ainda não sabe quando o milho chegará nem a partir de quando começará a ser distribuído. Segundo João Lúcio, 16 mil produtores estão cadastrados para comprar milho a preço subsidiado no estado. O número é 357 vezes maior que o registrado em maio de 2012. Deste total, 3.479 estão cadastrados apenas na unidade Caiapós, em Natal. Em 2012, eram 800. "E o número não para de subir", afirma Nassau Anselmo, gerente da unidade. Segundo ele, a unidade cadastra 20 novos produtores por dia. 

Nassau nega que haja fila de espera, mas confirma que a procura ainda é maior que a oferta. "Terminamos o ano com estoque zero. Não deu tempo para repor o estoque totalmente. Mesmo assim estamos procurando atender a todos dentro da nossa disponibilidade", afirma Nassau. Só a unidade Caiapós atende 50 municípios potiguares. 

"Já tentamos de tudo. Agora a gente distribui fichas de atendimento. Só 70 por dia", relata José Onildo, gerente da unidade de Assu, responsável por distribuir milho para 30 municípios. Em agosto, a fila de produtores inscritos e ainda não contemplados em Assú chegava a 850. "A unidade estava totalmente desabastecida no ano passado. O estoque ainda não foi reposto, por que o milho é distribuído assim que chega. A gente faz o possível para atender a todos. Temos milho, mas não o suficiente para atender a cota de todo mundo", completa. 

João Lúcio, superintendente da Conab no estado, afirma que os estoques serão repostos, embora não saiba quando, e avisa que a venda de milho a preços subsidiados termina no dia 28 de fevereiro. "O programa já foi prorrogado em dezembro do ano passado. Até o momento não se falou em prorrogar novamente". Tamanha procura tem uma explicação. O preço da saca com 60 quilos na Conab varia entre R$18,12 a R$ 24,70. No mercado paralelo, chega a R$ 60. 

Faltou incentivo, dizem pecuaristas

Para José Vieira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária no RN (Faern), garantir o fornecimento de milho não é suficiente para frear os abates. "Se o Estado tivesse quantidade suficiente de milho para atender todos os produtores na hora que precisassem, a mortalidade e os abates cairiam muito, mas só o milho não salva o rebanho. O rebanho precisa de capim, de cana-de-açúcar, de bagaço de cana", esclarece. Segundo ele, o governo estadual 'poderia ter ido pelo mesmo caminho que o governo de Pernambuco e da Paraíba'. 

"A Assembleia Legislativa de Pernambuco aprovou o repasse de R$ 33 milhões para comprar cana-de-açúcar e subsidiar o frete do bagaço para salvar o rebanho", relata. A Paraíba, por sua vez, aprovou R$ 7 milhões para comprar farelo de soja, torta de algodão, e sorgo, para vender aos produtores pela metade do preço, compara Vieira. "Aqui no RN, nem se o produtor quiser comprar ele está achando".

O governo do Estado começou a distribuir capim em outubro do ano passado para quem tem até 10 cabeças de gado e 35 de cabras e bodes, mas a medida, afirmam a Faern e a Associação Norte-Riograndense de Criadores (Anorc), não atende aos pequenos e médios, que detém boa parte do rebanho. 

O fato dos pequenos e médios produtores potiguares terem acessado até o dia 31 de dezembro apenas 13,1% dos R$ 135 milhões já liberados dentro do Programa Emergencial para a Seca, operacionalizado pelo Banco do Nordeste, piora a situação, na avaliação de Júnior Teixeira, presidente da Anorc. "Sem crédito, a única maneria de conseguir dinheiro é vendendo as vacas", afirma Júnior. 

Algumas chegam a ser vendidas por até 1/3 do preço. "Há vacas que custam R$ 4 mil e em casos como esses são vendidas a preço de corte, por R$ 1,2 mil. Tudo para manter a propriedade", relata Júnior Teixeira.

TRIBUNA DO NORTE

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