Evento mapeia produção estudantil
Em sua oitava edição, a Bienal da União Nacional dos Estudantes, o maior festival estudantil da América Latina, volta a mapear a produção cultural universitária. "Um dos principais objetivos é pensar a formação do povo brasileiro, sobretudo as manifestações culturais. Para isso, promovemos uma mostra seletiva para apresentação de trabalhos de vários estudantes nas mais diversas linguagens artísticas e também nas áreas de ensino, pesquisa e extensão", detalha Rafael Buda, um dos coordenadores da Bienal, que espera receber este ano cerca de dez mil estudantes.
Vaqueiros cearenses são tema de trabalho do estudante Indra Nogueira Nunes
Após exatos dez anos, as cidades pernambucanas de Recife e Olinda voltam a sediar o evento, entre os dias 22 e 26 de janeiro. A Bienal tem como principal homenageado o também pernambucano Luiz Gonzaga, cujo centenário foi celebrado em dezembro de 2012.
"Nossa homenagem desta edição se situa entre Gonzagão, o sertão e o nordeste. Luiz foi o propagador maior dessa cultura específica do nordeste, com todas as suas particularidades. Atualmente, vivemos um momento de ascensão desse Nordeste, de saída da margem para assumir sua posição de uma das principais regiões do Brasil, por isso adotamos como mote "a volta da Asa Branca". Luiz cantou essas idas e vindas do povo sertanejo, a migração, o lamento, a vontade de retorno para o seu lugar de origem", explica o coordenador.
Música e teatro
Segundo Rafael Buda, os três temas estão presentes em toda a programação e na concepção teórica dos debates. Tradicionalmente, cada mostra temática homenageia um grande nome de sua área específica. A música, por exemplo, leva o nome de Jackson do Pandeiro; as artes cênicas, de Ariano Suassuna; e, na literatura, fugindo um tanto ao protocolo, homenageia-se Patativa do Assaré, o único não-pernambucano da lista. "Já que se buscava um nome da literatura que estivesse ligado a Luiz Gonzaga, resolvi comprar a briga e indicar Patativa do Assaré. Gonzagão gravou, entre tantas composições, ´A Triste Partida´, de Patativa, e ambos se dedicavam a apresentar um sertão de alegrias e agruras. Essas, aliás, que, infelizmente, são ainda recorrentes", opina Lidiane Cursino, coordenadora da mostra de literatura da Bienal da UNE.
Cursino cita como exemplo a recente seca pela qual ainda passam algumas localidades nordestinas. Tanto Gonzagão quanto Patativa dedicaram a música e o verso para divulgar a situação calamitosa da estiagem nos sertões e essa realidade, décadas depois, continua a se repetir. "É interessante que esse público jovem e universitário esteja atento para conhecer nomes como Gonzaga e patativa. Queremos apresentar esses ícones e esse universo sertanejo aos jovens", afirma Cursino.
Projetos
Este será um ano de participação maciça do nordeste no evento. Dos 96 trabalhos enviados de 22 estados brasileiros e Distrito Federal, cerca de 40 trabalhos representam a região. Quatro selecionados são do Ceará, três deles inscritos na Mostra de Audiovisual e um na Mostra de Artes Visuais. Este último consiste na exposição fotográfica de Indra Nunes, da cidade de Barbalha. As 14 fotografias em preto e branco retratam a missa do Vaqueiro Jacó, no distrito de Lajes, em Serrita (PE).
Entre os projetos de audiovisual selecionados, está o do coletivo Aparecidos Políticos, que registrou em vídeo uma de suas intervenções urbanas. "Trabalhamos com uma proposta de rebatismo popular, que consiste em rebatizar locais públicos que levam o nome de militares e ditadores. Neste vídeo, registramos o rebatismo da praça que fica em frente ao 23 BC, que nomeamos Praça do Preso Político Desaparecido. Colocamos uma placa de aço, um busto e fizemos uma espécie de cerimônia", explica Marcos Venicios Martins, um dos integrantes do coletivo.
Para ele, participar de um evento ligado a União Nacional dos Estudantes significa manter uma relação entre dois elementos intrínsecos ao movimento de que faz parte: arte e política.
FIQUE POR DENTRO
Entre Olinda e Recife: espaços da Bienal
O complexo do Carmo, em Olinda, vai se transformar, durante a Bienal da UNE 2013, em uma "cidade dos estudantes". Entre a praça e a igreja, serão montadas estruturas para receber as atividades do festival. Locais como a Faculdade de Olinda, a Biblioteca Pública e o Clube Atlântico abrigarão mostras, debates, exposições, sessões de cinema e apresentações teatrais. Os shows de bandas universitárias ocuparão a praia do Carmo. Como novidade nesta edição, acontece também a Bienalzinha, com programação de caráter lúdico e recreativo voltada ao público infantil. As ladeiras de Olinda, patrimônio da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) e da alegria pelos foliões, serão palco do encerramento da Bienal com a "culturata", tradicional passeata cultural dos estudantes, que terá o mesmo percurso dos famosos blocos do carnaval. Já as principais atrações musicais ocorrerão em Recife, no Marco Zero, momento de integração e um presente da Bienal para a população local.
Mais informações:
8ª Bienal da União Nacional dos Estudantes. De 22 a 26 de janeiro, em Olinda e Recife, Pernambuco.
Programação em: http://www.bienaldaune.org.br/
MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER
Diário do Nordeste
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