Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostram que o Ensino Médio regular é o grande 'calo' da educação do Rio Grande do Norte. Esse nível ficou abaixo de todas as metas projetadas seja na rede pública ou privada. E comparando com o resultado anterior, observa-se que não houve avanço, já que o RN repetiu em 2011 os 3.1 pontos registrados há dois anos. A meta da região Nordeste era 3.3.
Aldair Dantas
A Escola Estadual Presidente Kennedy é um exemplo no ensino fundamental.
Ela obteve a melhor nota entre as instituições da capital, 6.0 pontos
A secretária estadual de educação, Betânia Ramalho, reconhece a deficiência do RN e a dificuldade de conseguir uma evolução no ensino médio. Segundo ela, há um excesso de conteúdo para esse nível e uma dificuldade de se conseguir professores especializados e de modernizar o ensino médio.
"A sociedade mudou, mas a escola não acompanhou essa evolução, infelizmente. Muitos de nossos alunos do Ensino Médio estão fora da faixa e as escolas não foram preparadas para recebê-los, pois não oferece um conteúdo compatível com os interesses", disse Betânia Ramalho.
Ainda segundo ela, o Estado começou a investir para mudar essa realidade, mas que os resultados não podem ser vistos do dia para noite. E esses dados dão reflexos de anos passados.
"Nós estamos caminhando pelo Pronatec, que concilia a educação escolar com educação profissional, um ensino médio inovador,que permite um currículo mais direcionado para esses estudantes. Queremos que o conhecimento aplicado em sala de aula faça sentido na vida dos alunos e pretendemos saltos mais altos e fortes para a educação pública", enfatizou.
Outro projeto que pretender melhorar os índices do Ensino Médio é o cursinho de reposição. Atualmente são 44 cursinhos atendendo a quase quatro mil alunos.
No que diz respeito ao Ensino Fundamental, o Estado conseguiu avanço. O RN atingiu nota 4,1 para os anos iniciais em 2011. Um aumento de 0,4 ponto tendo em vista que a meta do Estado era 3,8 pontos. Apesar do avanço, o ficou abaixo da média nacional (5,0) e da média regional (nordeste) que foi 4,2.
Nos anos finais do Ensino Fundamental, o RN obteve nota 3.4, acima da meta que foi 3.0 pontos. O RN também obteve avanços na taxa de aprovação, que está acima dos 70%.
Fazendo a avaliação por municípios, os do interior do Estado conseguiram melhor pontuação do que a capital Natal. Acari foi o que apresentou o melhor Ideb nos anos iniciais do Ensino Fundamental 5.2 pontos, mas não atingiu a meta de 5.4 pontos. Seguido de São João do Sabugi com 5.2 pontos e Cruzeta 4.3.
Nos anos finais o primeiro lugar fou para Ouro Branco (4.5), seguido de Rafael Godeiro (4.5) e Acari (4.4).
O município de Natal conseguiu atingir a meta apenas nos anos inciais do Ensino Fundamental com nota 3.9. Nos anos finais teve nota 3.0, ficando 0.3 pontos abaixo da meta do MEC.
"Nem sempre os grandes municípios possuem os melhores índices. Os resultados dependem muito da gestão de cada escola e da participação da família na vida escolar do aluno. Não adianta ter os recursos se não tiver uma boa gestão, plano de educação baseado na realidade de cada escola e, principalmente, a presença dos pais na escola, que vão fiscalizar e cobrar o que está sendo oferecido", disse Betânia Ramalho.
A meta do Plano de Desenvolvimento da Educação é que em 2020 o Brasil possua média de 6.0 pontos, que corresponde a um sistema de educação de países desenvolvidos.
Escola estadual é exemplo de boa administração
Apesar do desempenho regular do Rio Grande do Norte no Ideb, algumas escolas mostram que é possível oferecer uma escola pública de qualidade. A Escola Estadual Presidente Kennedy é um exemplo. Ela obteve a melhor nota entre as instituições da capital, 6.0 pontos.
A escola possui 150 alunos entre a 3º e 5º ano do Ensino Fundamental. Com uma equipe pedagógica formada por 40 pessoas.
E não é difícil entender o por quê do desempenho. A escola possui um projeto educacional que é seguido a risca durante todo o ano. O conteúdo de todas as disciplinas é baseado nesse projeto.
"O nosso segredo é a gestão e os recursos humanos. Nossa equipe é muito empenhada, comprometida com a educação", disse a diretora Maria Gorete Nobre Silva.
Os professores passam o conteúdo na sala de aula e os alunos utilizamo laboratório de informática, biblioteca, sala de vídeo, mapoteca para complementar o aprendizado.
A escola tem ainda uma sala multifuncional para atender os alunos com necessidades especiais e oferece aulas de reforços para os alunos com deficiência.
Cerca de 50 crianças estudam no regime de educação integral. É o caso de Cinthia Samilly de 10 anos. "Eu tenho aula normal em um horário e no outro eu participo de atividades esportivas e culturais. Faço judô, tenho aula de araruna, na banda de música, reforço de matemática", conta a menina que saiu de uma escola particular para estudar no Kennedy.
Resultado do RN entre os mais tímidos do país
A representante do Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE), Cláudia Santa Rosa, avalia como discreto o avanço apresentado pelo Rio Grande do Norte e quando comparado com demais estados do país a situação é ainda mais crítica, já que o RN ficou fim do ranking.
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o RN ficou na 26ª colocação com nota 4.1, empatando com Sergipe e ganhando para Alagoas (3.1).
Nas séries finais do Ensino Fundamental, o RN tem nota 3.4 e ficou a frente da Bahia (3.3), Sergipe (3.3) e Alagoas (2.9).
No Ensino Médio o RN obteve 3.1 pontos, ficando a frente de Alagoas (2.9) e Pará (2.8).
"Esse resultado se deve a inconsistência da política educacional do RN. Aliás, a falta de um plano geral, o que nós temos é apenas algumas políticas, mas o estado como todo tem dificuldade de compartilhar. E desde a primeira edição do Ideb a gente lamenta os resultados", avaliou Santa Rosa.
Ainda segundo ela, o Estado precisa investir em gestão para que seja notado algum avanço. Além de uma equipe qualificada para colocar em pratica o planejamento.
Com relação ao Ensino Médio, o caminho para uma melhoria passa pela profissionalização. Aliar as disciplinas tradicionais a outras que profissionalizantes. Além de nvestir no professor. "Na minha leitura, um bom começo é conseguir fazer funcionar o básico: ter professores na escola. Terminar o ano sem professor de todas as disciplinas em sala de aula é inadmissível", disse.
*Tribuna do Norte
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