“Se fosse um livro sobre Michael Jackson talvez não existisse tanta barreira”, declara o coronel da Polícia Militar e escritor José Marcelo Leal Barbosa, autor de obras importantes sobre o músico Luiz Gonzaga e que esteve em Mossoró para divulgar seus trabalhos e participar da oitava Feira do Livro.
Participando de Feiras Literárias e eventos que endossam a fileira de iniciativas pró-leitura no País, Marcelo Leal destaca que é preciso mais atenção à obra de Luiz Gonzaga. “Ele é, hoje, uma referência no que diz respeito à cultura brasileira. Num primeiro momento, Luiz Gonzaga sempre deverá ser homenageado e lembrado pela vida toda. Já vi homenagens de vários tipos, mas está faltando, em minha opinião, uma coisa, começando pela terra natal dele: está faltando valorização do seu trabalho. As rádios FMs não tocam Luiz, afora algumas... Nas AMs ainda escutamos, mas é pela manhã ou no final da noite. Ele é um músico que deve ser sempre divulgado. Foi o primeiro cantor que falou sobre ecologia, sobre Chico Mendes e, antes de tudo, um músico companheiro daqueles que queriam prosseguir na carreira”, destaca o estudioso.
A paixão pela obra do pernambucano começou aos dez anos de idade, quando ouviu, pela primeira vez, a música Assum Preto. “Quando conheci Luiz Gonzaga, eu tinha 10 anos de idade. Sempre me emocionei com as letras dele. Assum Preto foi a canção que me emocionou. Daí, escutava meu pai executando suas músicas e de lá para cá somente aumentou minha admiração pelo seu trabalho”, salienta.
O primeiro livro escrito sobre o músico, intitulado Luiz Gonzaga, suas canções e seguidores é uma referência para quem quer conhecer o trabalho do pernambucano. “Dividi minha pesquisa de campo em três momentos: o primeiro foi comprar todos os livros que falavam sobre ele. Eram 14, à época. Existiam mais, no entanto estavam fora do mercado. A primeira decisão foi essa. Li e pesquisei. Depois, comprei todos os discos, para escutar as canções e estudá-las. Resolvi, logo depois, entrevistar os familiares... a partir daí também entrevistei artistas e gente da mídia que segue Luiz Gonzaga, aqueles que continuam divulgando a vida e a obra dele. Comecei a escrever e o livro não poderia ter outro título: Luiz Gonzaga, suas canções e seguidores. Colocamos mais de 500 letras, além de músicas que ele não gravou. Fiz a ficha cadastral de todos os entrevistados. É o único, dos 40 livros sobre Luiz Gonzaga, que tem partitura para canto-coral. Também colocamos cordéis e 31 entrevistas. O segundo livro partiu do momento em que, enquanto escrevia sobre o Nordeste, verificava o quanto ele havia sido homenageado. Então, este segundo trabalho trata acerca disso”, comenta Leal.
Segundo ele, do primeiro livro mais de 70 leitores deram “feedbacks” acerca do material. “Recebi mais de 70 e-mails de leitores do primeiro livro. Eles me disseram que eu poderia disponibilizar as entrevistas. Nesse segundo volume, coloquei um CD onde disponibilizei 70 entrevistas e elas estão aí para quem quiser pesquisar... Também há 13 canções dele. A edição de 3.000 livros já está se esgotando”, comemora o cearense.
Ele percorre as feiras de livro e eventos literários para divulgar seus livros. “Participo de feiras e eventos. Deixo meus livros, por exemplo, em bancas. As livrarias estão cobrando muito caro dos autores: 50% do valor de capa. Eles vendem, mas não acho justo que fiquem com 50%. Eu, que sou o autor, fico com menos que isso, porque pago a gráfica, viagens e outras despesas. Além disso, faço doações do livro para entidades sérias, como a Apae e os asilos. Enfim, várias instituições que cuidam de pessoas mais carentes que nós. Temos que fazer essa parte de ajudar a pessoas carentes. Minha mãe, durante meio século, fez jantares para idosos... Luiz Gonzaga também ajudou a muitas pessoas, auxiliando, inclusive, com instrumentos. Doou mais de 300 sanfonas para pessoas que não tinham como comprar”, explica.
COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO
Neste ano em que se comemora o centenário de nascimento do músico, José Marcelo Leal crê que as escolas da própria cidade dele, Exu, deveriam criar uma disciplina sobre a obra de Luiz Gonzaga. “Ele levou o Brasil para a França. Não estamos precisando de monumentos, mas de uma disciplina para se estudar a vida e a obra deste músico brasileiro. Uma colega minha, a professora Elba Ramalho, da Universidade Estadual do Ceará, teve um livro publicado, fruto de um trabalho acadêmico na Inglaterra, sobre ele... Hoje, naquele país existe um busto natural de Luiz Gonzaga e se estuda sua obra. As novas gerações deveriam observar melhor isso. Muitas homenagens são feitas, agora, por pessoas que gostam da obra dele, os chamados gonzagueanos. Enfim, todos aqueles que divulgam seu trabalho. Mas, acho necessária uma maior abertura para o seu trabalho. Devemos deixar um pouco o estrangeirismo de lado e valorizar o que é nosso”, finaliza.
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