domingo, 12 de maio de 2013

Carlos Villagrán vai "aposentar" o Kiko


ENTREVISTA

´Vou sentir saudades´


Carlos Villagrán anuncia a aposentadoria de seu personagem mais famoso, Kiko, mas acredita no legado de "Chaves" na TV

Na época da vila, Kiko e Chaves eram amigos, mas viviam brigando. Quando Carlos Villagrán saiu do seriado em 1978 e foi fazer um programa solo com seu personagem bochechudo, a vila e a amizade com Roberto Gomez Bolaños - criador e intérprete de Chaves - nunca mais foram as mesmas.

Villagrán, de 69 anos, afirma que seu pior inimigo é a versão jovem de Kiko. FOTO: DIVULGAÇÃO

Trinta e cinco anos depois, Villagrán está aposentando o terninho de marinheiro de seu personagem e, sem lavar a roupa suja, dá esperança aos fãs de uma reconciliação com Chespirito, como Bolaños é conhecido. "Eu aceitaria com muito prazer me encontrar ou falar com ele novamente", diz Villagrán.

Antes de seu último show no Brasil, o ator explicou o motivo de estar se despedindo de Kiko, por quem tanto brigou - até na grafia adaptada no nome (com "K"), por problemas de direitos autorais com Bolaños.

Por que aposentar Kiko, deixando órfãos milhões de fãs no mundo inteiro? Do que o senhor vai sentir mais falta nos palcos?

Estou com 69 anos. Por respeito aos fãs, vou parar de competir com o meu pior inimigo: o Kiko mais jovem, que aparece todo dia na televisão. Não posso brigar com o personagem, pois ele não envelhece e não vai com a minha cara! Mas os fãs não vão ficar órfãos. A série vai continuar aí pra quem quiser assistir. Vou sentir saudades do público e das risadas, isso é lindo.

O senhor vê alguma diferença entre os fãs brasileiros e os do resto do mundo?

No Brasil, há mais fãs que nos outros países e eles são mais empolgados e carinhosos. Amo os fãs brasileiros e tenho muitos amigos daqui pelo Instagram (rede social de fotos). Este país significa muito para mim e meu amor pelo Brasil é tão grande que, quando eu morrer, quero que minhas cinzas sejam trazidas pra cá.

Os fãs podem ter alguma esperança de você e Chespirito fazerem as pazes?

Aceitaria com muito prazer me encontrar ou falar com ele novamente. Não tenho nenhum problema com isso.

Como é a sua relação com os demais integrantes de "Chaves"? Guarda alguma mágoa deles?

Eu não me misturo com a gentalha (risos)! Não guardo mágoa de ninguém. Simplesmente não há relação, nem para o bem nem para o mal. Às vezes nos encontramos em bastidores de programas de televisão pelo mundo. Recentemente, antes de vir ao Brasil, me encontrei com Maria Antonieta de las Nieves (a Chiquinha) em Los Angeles e gravamos juntos um esquete com o Kiko e a personagem dela. E tivemos uma ótima conversa sobre os velhos tempos.

Sente saudades da época em que viajava pelo mundo fazendo shows com os outros atores da atração?

Lembro com muito carinho de quando éramos como uma família unida. Viajávamos e passeávamos juntos. Foi um grupo tão bonito que transmitíamos isso no programa.

Que falta faz Ramón Valdés (que interpretava Seu Madruga, morto em 1988) na sua vida?

Don Ramón, o Seu Madruga, era o meu melhor amigo. Era uma pessoa divina, muito querida, humilde e agradável. Que descanse em paz. Éramos muito unidos e os mais simples do grupo.

Como é a vila do Chaves após a saída de Kiko e Seu Madruga?

Depois que o Kiko saiu - aliás, foi tirado do programa - e da saída do Seu Madruga, a série perdeu a graça. Éramos o sal e a pimenta da série, que nunca mais teve o mesmo sucesso. Todos os personagens ficaram sem função. Dona Florinda (vivida pela atriz Florinda Meza, que foi casada com Bolaños até 2004) não tinha mais o filho e também não tinha mais em quem bater. Chiquinha ficou órfã. Senhor Barriga (Édgar Vivar) não tinha mais pra quem cobrar o aluguel atrasado. E a Bruxa do 71 (Angelina Fernández) perdeu seu motivo de viver. Acabou o programa aí.

E o desenho animado da série, já assistiu? Aprova a versão animada de Kiko?

Não vejo o desenho porque tenta imitar a série clássica, mas não é a mesma coisa.

LAURO NETO
AGÊNCIA O GLOBO
Diário do Nordeste

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