segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Fifa não está aqui só para encher os bolsos e sair do país", afirma Valcke

Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
AFP PHOTO/VINCENZO PINTO
Secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke tentou mostrar que a Copa do Mundo pode ser boa para o país

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Ao final da primeira fase da Copa das Confederações, a Fifa e o governo federal avaliaram que as críticas à competição e à Copa-2014 são consequência de um problema de comunicação. Para eles, a população não recebeu informações suficientes sobre os benefícios da realização do Mundial. Por isso, a entidade e o governo iniciaram uma verdadeira campanha para mostrar dados que teoricamente provam como a competição favorece o desenvolvimento do país, sem prejudicar investimentos em educação e saúde. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a falar em usar estatais para fazer propaganda para melhorar a imagem da Copa.

"Nós [a Fifa] não estamos aqui só para encher os bolsos e sair do país", afirmou o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke. Em seguida, ele acrescentou: "Sempre se pode fazer mais. Acho que estamos trabalhando. Você pode dizer que não é suficiente, mas não tenho vergonha do que estamos fazendo", contou. "Não há contradição nos investimentos [da Copa] com educação. No plano de turismo, há fortalecimento da educação técnica", deu um exemplo o secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luis Fernandes.

Em paralelo, há uma intenção da Fifa de minimizar o impacto negativo na imagem do Brasil no exterior por conta dos protestos. Apesar de ter pedido mais segurança para a competição, a entidade tenta transmitir a imagem de há um exagero no noticiário sobre violência e o não há caos no país.

"Temos que usar a objetividade. Jornalismo não é uma questão de audiência, mas de responsabilidade. Vi na TV um sinal de trânsito destruído. Isso foi mostrado várias vezes, por vários ângulos. Dá a impressão de que não havia luzes de tráfego no país. E esse não é o caso. Vocês são os responsáveis por fazer a opinião pública. É um convite para ver todo o cenário", afirmou o diretor de comunicação da Fifa, Walter de Gregorio.

Em seguida, Valcke começou a listar valores que a Fifa traz para o país-sede da Copa. Entre eles, citou o gasto da entidade de R$ 32 milhões com hotéis, e R$ 448 milhões em despesas para para o Mundial. Também citou empregos dados para equipes que trabalham em serviços de hospitalidade, recepção, comidas e bebidas, em um total de 15 mil pessoas.


FIFA GANHA ISENÇÃO E TRABALHADOR PAGA CONTA
Enquanto a Fifa e as empresas parceiras da entidade estão livres do pagamento de impostos na realização da Copa das Confederações deste ano e da Copa do Mundo de 2014, o mesmo não pode ser dito sobre os trabalhadores brasileiros que prestarem serviço na organização desses eventos. Quem for contratado diretamente pela Fifa ou suas empresas estrangeiras parceiras, além de ter que recolher normalmente sua parte, inclusive do imposto de renda, ainda será obrigado a pagar uma parte do imposto que caberia à entidade máxima do futebol ou suas parceiras.
 

A Fifa obtém com a Copa do Mundo um total de receita de US$ 4 bilhões nos quatro anos de ciclo do Mundial. Segundo o secretário-geral, que afirma que o dinheiro não é para "Mercedes", um total em torno de US$ 1,4 bilhão é investido na organização da competição. Desse total, no entanto, inclui-se valores como prêmio para os participantes ou seguro para os times, recursos que ficam longe do país-organizador da competição. A entidade ainda argumenta também que há o investimento social com "Football For Hope" e o "11 for Health", mas apenas 0,5% do total ganho com o Mundial será investido em programas sociais no Brasil.

A maior parte do dinheiro vai para a administração da Fifa, as associações nacionais de futebol pelo mundo, programas de desenvolvimento do esporte e também um fundo de reserva da entidade --esse já tem cerca de US$ 2 bilhões.

Enquanto a Fifa acenava com o investimento feito no país, o Ministério do Esporte afirmava que não há "gasto" com a Copa, mas investimento em programas de infraestrutura. "Teriam de ser feitos investimentos no país. Nesse planejamento, foi estabelecido uma matriz de responsabilidades. Ela não é uma compilação de gastos da Copa do Mundo. É um plano estratégico de investimentos", disse Fernandes.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, insistiu que não há recursos do orçamento federal para estádios. Ele se prende ao fato de o dinheiro não sair diretamente do Tesouro, embora exista verba federal em forma de terrenos da União vendidos para pagar a construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, de renúncia fiscal para reformas das arenas e empréstimos a juros baixos pelo BNDES.

"O governo também dá subsídio para os jornais. Por que isso? Porque entende que a população deve ler mais jornais. As empresas estatais fazem propaganda nos veículos. Muitos recebem muito dinheiro público. Isso não dá o direito de o governo ter ações desses veículos", contra-atacou Rebelo. O ministro reconheceu a participação societária da União na Terracap, empresa do Distrito Federal que bancou a construção do Mané Garrincha. "É uma participação minoritária. O governo federal não empenhou recursos." De fato, o dinheiro saiu da venda de terras que pertencem 49% ao governo federal.

Aldo ainda mostrou dados de consultoria privada que preveem investimento acima de R$ 100 bilhões no país por conta do Mundial. Para ele, a questão é que a população não conhece esses números e por isso faz críticas ao Mundial. Ele atribui isso a jornalistas que só veem pontos críticos, e a falha de comunicação do governo.

"Da parte do governo, deveria ter um esforço maior de comunicação. Vamos falar com a Caixa e o Banco do Brasil [para fazer a propaganda]. Quem sabe uma estratégia de comunicação", explicou Rebelo. 

AO CONTRÁRIO DO QUE DIZ DILMA, UNIÃO PÕE R$ 1,1 BILHÃO EM ESTÁDIOS
Ao contrário do que afirmou a presidente da República, Dilma Rousseff, em pronunciamento na sexta-feira, há sim dinheiro federal em obras de estádios da Copa de 2014. E não é pouco. Somados os incentivos fiscais, subsídios em empréstimos e até participação em arenas, a União já comprometeu cerca de R$ 1,1 bilhão com os locais para jogos do Mundial.

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